São Paulo, quarta-feira, 23 de março de 1994
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Presidente começa a se arrepender do tom duro

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A crise que abala a praça dos Três Poderes há seis dias não nasceu da pressão dos militares, mas de uma iniciativa do próprio Palácio do Planalto. É verdade que os militares estavam irritados com o aumento que se autoconcederam o Legislativo e o Judiciário. Mas é mentira que tenham pressionado Itamar para realizar a minirreunião ministerial da última sexta. Foi depois desta reunião que o Planalto divulgou a primeira nota com duras críticas aos outros dois Poderes.
Os ministros militares queriam adiar a conversa sobre salários para a segunda-feira desta semana, dia em que, após viagem aos EUA, o ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, estaria de volta a Brasília. Eles foram, porém, convocados pelo presidente para o encontro de sexta. Também não partiu deles a idéia da divulgação da nota. O documento explosivo foi redigido por insistência do próprio Itamar, que fora aconselhado por auxiliares diretos a reagir de forma dura.
Ontem, Itamar começou a se arrepender. Confessou que preferia não ter dito que o Supremo está fora da lei. Ele fizera o comentário na véspera. O presidente dava os primeiros sinais de que está disposto a negociar. Alguns de seus auxiliares passaram a temer eventuais represálias do STF em julgamentos futuros.
Na raiz da crise está uma simples reivindicação corporativa. O problema nasceu de um pedido de dois sindicatos conhecidos apenas em Brasília, o Sindilegis e o Sindijus. O primeiro representa os servidores do Legislativo. O outro, os da Justiça.
A medida que resultou num aumento de 10,94% para os salários do Congresso e do STF foi pedida pelos dois sindicatos. Os ministros do Supremo e as direções da Câmara e do Senado, todos beneficiados com o aumento, deferiram o pedido sem qualquer reflexão sobre as suas implicações políticas.

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