São Paulo, quarta-feira, 23 de março de 1994
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Supermercados contestam as novas tabelas em URV

GABRIEL J. DE CARVALHO; MARISTELA MAFEI
DA REPORTAGEM LOCAL

As primeiras tabelas de preços em URV da indústria estão sendo contestadas por dirigentes de supermercados, que preferem comprar em cruzeiros reais em quantidade suficiente apenas para evitar desabastecimento nas lojas. Se fossem aceitar os preços de muitas indústrias, reclamam, os preços em URV subiriam, na média, 20%.
Ao fazerem a conversão para a URV, muitas indústrias estariam tomando por base o preço anterior das vendas a prazo, que incorporava um custo financeiro. O desconto sobre o resultado dessa conversão estaria longe de compensar o tal custo financeiro.
José Pereira Fernandes, presidente do Conselho de Administração da rede Barateiro, cita como exemplo a tabela de preços de um fornecedor de iogurte.
O último preço pago por sua rede para o produto em cruzeiros reais, para pagamento a prazo, foi equivalente a 1,82 URV por quatro unidades. A tabela em URV trouxe um desconto que baixou o preço para 1,72 URV. "Mas, na prática, o custo sobe muito, já que o fornecedor está praticando desconto ínfimo", afirma.
Se for considerado o efeito tributário, a elevação de custo é ainda maior. Antes da última decisão do Confaz, nas operações interestaduais e em outros Estados o varejo se creditava de ICMS (pago antes pelo fornecedor) calculado sobre o preço a prazo. Agora, desconta um valor menor, do imposto sobre o preço à vista, reduzindo a margem de lucro. A saída é um desconto no preço de compra ou um acréscimo no de venda.
José Roberto Tambasco, diretor da rede Pão de Açúcar, diz que a recusa dos fornecedores em deflacionar seus preços antes da conversão para URV deverá provocar falta de determinadas marcas: "Nós não vamos permitir abusos. A população é quem vai decidir essa queda-de-braço, ao aceitar comprar, por determinado período, marcas alternativas àquelas tradicionalmente preferidas."
Há exceções nessa prática. O setor de derivados de tomate, por exemplo, teria convertido seus preços efetivamente praticados pela média do último quadrimestre de 93. As tabelas em URV ainda não chegaram aos supermercados.
Walter Fontana Filho, presidente executivo da Sadia, diz que diariamente a empresa emite 17 mil notas fiscais. "Convertemos nossos preços efetivamente praticados, à vista, pela URV do período da venda anterior. Os que ficaram acima estão sendo renegociados caso a caso", afirmou.
Segundo Fontana Filho, parte das lojas do Carrefour e do Pão de Açúcar já concordou em realizar compras em URV de pelo menos 50% dos itens da Sadia. O preço médio à vista do último quadrimestre de 93 da Sadia ficou próximo ao da tabela a prazo de março, com deflator de 42%, diz ele.
Os supermercados enfrentam outro problema: ainda não sabem como se chegar ao preço final na gôndola para um produto comprado em URV. Antes, era só pegar o preço a prazo na nota e colocá-lo nas etiquetas. A aplicacão financeira diária do caixa garantia o pagamento do fornecedor e dos impostos e o lucro.
Agora, é necessário um exercício contábil e de futurologia: fazer uma previsão da URV para os próximos 30 dias, efetuar os cálculos da apropriação do ICMS pago pela indústria e acrescentar o lucro.
O varejo não tem condições de cobrar em URV nas prateleiras, o que exigiria a remarcação diária em cruzeiros reais. Ficaria com fama de remarcador e se arriscaria a perder mercado para concorrentes que não agissem assim.

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