São Paulo, quarta-feira, 23 de março de 1994
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Dois contra o mundo

THALES DE MENEZES

O futebol pode ser uma caixinha de surpresas, mas o tênis parece tão lógico que chega a dar raiva. Pete Sampras e Steffi Graf estão trabalhando duro para não deixar nenhuma dúvida sobre sua supremacia sobre todas as outras pessoas do planeta que pegam na raquete. Em Key Biscayne, semana passada, os dois venceram. Mas o destino parecia conspirar contra a lógica.
Afinal, os campeões perderam o primeiro set das partidas finais. Para Sampras, é raro perder um set. Para Graf, algo que não acontecia há 120 dias, desde 21 de novembro do ano passado, quando venceu Arantxa Sanchez no Masters do Virginia Slims por 3 a 1.
Ninguém esperava que Graf demorasse quase duas horas em Key Biscayne para derrotar a bielo-russa Natalia Zvereva. Apesar de ser metade da melhor dupla do mundo (a outra metade é Gigi Fernandez), Zvereva não passa de uma tenista esforçada em simples. Engraçada, fã de rock'n'roll e vestindo sempre as saias mais curtas do circuito, "Natasha" tem uma legião de admiradores que acompanham seus jogos ao lado da princesinha Gigi. Mas nem o fã mais ardoroso poderia adivinhar que ela ganharia o primeiro set de Graf, por 6/4.
A possibilidade de quebra do "status quo" incendiou o público. Mais de 12 mil pessoas confirmaram a tese que a torcida sempre apóia o mais fraco e berraram o nome de Zvereva. Um desperdício de energia. Bastou Graf respirar fundo e colocar a cabeça no lugar. Fez 6/1 e 6/2, com a tranquilidade de quem enfrentava uma juvenil.
Depois dessa ducha fria no sábado, a torcida voltou no domingo e foi novamente enganada. Andre Agassi, o tenista preferido dos norte-americanos, venceu o primeiro set da final por 7/5, depois de esbanjar cavalheirismo ao aceitar um adiamento de 45 minutos devido a uma diarréia que não deixava Sampras sair do banheiro.
Aí, a lógica deu as caras de novo. Quer dizer, se é lógico um cara com diarréia, jogando por duas horas sob um sol senegalesco, não ligar para um Agassi apoiado pela torcida e vencer os dois sets por 6/3 e 6/3, em ritmo de treino.
Moral da história: mesmo na adversidade, Sampras e Graf seguem pulverizando seus adversários. Em pouco mais de dois meses de temporada 94, faturaram juntos mais de US$ 1,7 milhões em prêmios (cinco títulos para Graf e quatro para Sampras).
Contra eles, o resto do mundo. Parece uma briga justa.

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