São Paulo, quarta-feira, 23 de março de 1994 |
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Exibição no Brasil acompanha novidades
AMIR LABAKI
Em fevereiro último, comentando com este articulista em Berlim os indicados pela academia, Canosa não se continha nas comparações: "Vocês estão vendo tudo antes", exclamava com exagero, ainda que pouco. Examinem-se os indicados para o melhor filme estrangeiro, já que a presença dos concorrentes americanos são sempre favas contadas. O vencedor, a simpática comédia erótica "Sedução - Belle Époque" do espanhol Fernando Trueba, estreou no Brasil seis meses antes de ganhar os cinemas parisienses. Os três concorrentes asiáticos ("Adeus Minha Concubina", "Banquete de Casamento" e "O Cheiro do Papaia Verde") foram lançados por aqui muito antes de sonharem com a indicação, vindos na esteira de sucessos nos grandes festivais internacionais (Berlim para o segundo, Cannes para os dois outros). Já o quinto e último concorrente, "Hedd Wynn" de Paul Turner, de nacionalidade britânica mas falado em galês, não é desconhecido apenas no Brasil. Sua indicação surpreendeu mesmo à crítica inglesa. A nova sintonia do público brasileiro não se limita a cinematografias antes marginalizadas. Gêneros há pouco menosprezados também ganharam espaço, com a triste exceção do documentário. O comentarista Rubens Ewald Filho errou feio ao afirmar por duas vezes na transmissão do SBT que "os curtas quase nunca passam por aqui". Por exemplo, dois dos premiados anteontem, a ficção "O Viajante Negro" do alemão Pepe Danquart e a animação "As Calças Erradas" (The Wrong Trousers) do inglês Nick Park, já foram convidados para o Festival Internacional de Curtas-Metragens do MIS-SP, de agosto próximo. A ampliação do número dos festivais internacionais de cinema no país tem sido um dos principais fatores de ampliação do cardápio fílmico para além do trivial hollywoodiano. Apenas na última meia década, vieram juntar-se à tradicional Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, a Mostra Banco Nacional, o citado Festival de Curtas, a Gramado ibero-americanizada e o Eurocine. Simultaneamente, assistiu-se a uma impressionante multiplicação dos distribuidores de filme de arte no país, em parte amparados por uma legislação saudavelmente facilitadora, que permite a importação de até seis cópias sem a obrigatoriedade da copiagem nacional. Empresas tradicionais com o a Art Filmes viram a concorrência acirrada por distribuidoras com perfil similar como a nova Belas Artes, Filmes do Estação, Flash Star, Look Filmes, Lumiere e Pandora, entre outras. Hoje, elas lutam não mais pelos favoritos de Cannes, Berlim ou Veneza -em geral já previamente comprados- mas pelos azarões, como o que envolveu em Berlim há um mês o cubano "Morango e Chocolate". Ainda bem: a produção de nossos vizinhos latino-americanos é ainda dos últimos tabus. Ao lado da brasileira. Texto Anterior: Resultados confirmam a vocação política do prêmio Próximo Texto: "Feitiço do Tempo" se redime pelo humor Índice |
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