São Paulo, quarta-feira, 23 de março de 1994
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SBT aposta na transparência das gafes

ISABELA BOSCOV
ESPECIAL PARA A FOLHA

Depois do terremoto de 5,3 pontos em Los Angeles às vésperas do Oscar, a noite da cerimônia transcorreu sem trepidação: após anos de derrotas e de perseverança, Spielberg finalmente teve a chance de babar sobre a estatueta do Oscar. "Uau, que surpresa", ironizou Clint Eastwood ao anunciar o prêmio de direção ao autor de "A Lista de Schindler".
Foi um dos poucos gracejos ferinos de uma noite politicamente correta até a última vírgula. À parte uma brincadeira de Whoopi Goldberg com os nomes de organizações militantes e o discurso emocionado de Tom Hanks, o 66º Oscar passou ao largo de farpas ou discursos políticos.
Enquanto Hollywood tratou de reduzir os paetês, efeitos especiais e balés do evento -para alívio de 1 bilhão de espectadores-, o SBT entrou de cabeça no clima de noite a rigor em sua estréia na transmissão do Oscar. Jô Soares fez as vezes de mestre-de-cerimônias nacional, Boris Casoy e Rubens Ewald Filho trocavam comentários ao início de cada bloco. Todos vestiam smokings. A ordem era ser "transparente": pela primeira vez, o espectador foi informado de que a organização do evento estava seguindo o script com razoável fidelidade, de que dois roteiristas nos bastidores auxiliavam Whoopi em seus "improvisos", de que não havia cortes na transmissão.
É uma iniciativa louvável, mas não houve só vantagens em relação à emissora concorrente. "Não vamos competir com os gracejos dos apresentadores americanos", avisou Boris Casoy no início. Na prática, essa política de selecionar o que seria traduzido ou não significou que, boa parte do tempo, o público brasileiro não tinha a menor idéia do que estava rolando no palco. Eram preferíveis os tropeços de Elizabeth Hartman, que fazia a tradução simultânea na Globo, a esses resumos por parte do SBT, tão insatisfatórios quanto legenda de filme japonês.
A ausência de Mauricio Kubrusly também não significou o fim das gafes. Boris Casoy inocentemente se perguntava por que havia cães no palco durante a interpretação da canção-tema do filme de cachorrinhos "Beethoven 2". Enquanto isso, a tradutora, fazendo voz de quem vai anunciar o próximo vôo, insistia em chamar o "óscar" de "oscár".

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