São Paulo, quinta-feira, 24 de março de 1994
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'Bom senso'

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

"Parecia que tudo se encaminhava para uma solução" foi a abertura, já em tom resignado, da cobertura do Jornal Bandeirantes para a crise dos três poderes. Parecia mesmo.
Logo cedo o Executivo, através de FHC, como reproduziram os vários telejornais, admitia a edição de nova medida provisória, que permitiria ao Supremo a chance não muito humilhante de voltar atrás.
No início da tarde, como noticiou o SP Já, foi a vez do Legislativo derrubar, através dos senadores, o aumento dos deputados. Era "dia de melhorar a imagem do Congresso", brincou o Jornal da Record.
Até o Jornal Nacional, que andava histérico nos últimos dias, mostrou juízo ao anunciar: "O governo muda medida provisória para acabar com a crise provocada pela conversão dos salários no Supremo."
Uma boa vontade que acabou trombando com a realidade. Como informou o resignado Jornal Bandeirantes, o que "parecia" não se confirmou. Em outras palavras, no TJ: "Houve um princípio de otimismo, mas a coisa empacou".
Empacou, como esperado, nos dois protagonistas. Um deles estava na manchete do Jornal da Record: "O Supremo bate o pé." O outro protagonista estava na manchete do Jornal Nacional: "O presidente Itamar Franco diz que não recua nem negocia com o Supremo".
Em mais um dia de tiroteio entre Executivo e Judiciário, um senador e militar, Jarbas Passarinho, disse que a saída está no terceiro e mais desmoralizado dos poderes. "Quando há problemas institucionais, sai daqui a decisão", disse, na Bandeirantes. E deu a receita: "flexibilidade e bom senso".
Newton Cruz
Ele tinha que aparecer logo agora. O general Newton Cruz estava ontem no Debate na TV. Sempre o mesmo: realista, à sua moda. "Se o Executivo pedir a intervenção das Forças Armadas, elas intervirão? Sim. Esta é a situação." Mais à frente, foi ainda mais direto.
"Estão cutucando onça com vara curta. Todos pensam que a onça está domesticada e ela realmente está, mas não a ponto de não haver reação. E mais: o que for feito será feito com o apoio da população. Então, que essa gente tenha juízo. Nós temos todo um futuro pela frente. Vamos ter eleições daqui a pouco. Eu sou candidato. Que todos procurem ajudar, se possível dentro das regras."
Bem que ele tentou aparentar "flexibilidade e bom senso", mas realmente não é a dele.

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