São Paulo, quinta-feira, 24 de março de 1994
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Pesquisa mostra caos na rede de saúde de SP

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 40% das pessoas não conseguem atendimento médico na rede pública no dia em que desejam; 70% reclamam da falta de funcionários, principalmente médicos; e cerca de 50% dizem que faltam medicamentos.
Estes são alguns dos resultados de pesquisa feita pelos Movimentos Populares de Saúde com 774 usuários de 72 postos de saúde e 34 prontos-socorros das redes estadual e municipal em São Paulo.
O quadro é pior do que já esteve. Quando se avaliam as opiniões sobre o atendimento em 93 em relação a anos anteriores, percebe-se uma deterioração dos serviços (veja quadro).
Nos postos de saúde do município, que apresentam melhor desempenho, um terço dos usuários disseram que a situação melhorou. Outros afirmaram que piorou (29%), que nada mudou (22%) ou nada responderam (14%). Nos prontos-socorros municipais, a situação se agrava: apenas 26% apontam uma melhora, contra 36% que dizem ter piorado o atendimento. Para 17%, nada mudou.
Nos prontos-socorros do Estado, 29% apontaram melhora, contra 71% que viram piora, nenhuma mudança, ou nada responderam. O atendimento se deteriorou nos postos estaduais de saúde: 40% dos usuários acham que o atendimento piorou e apenas 15% dizem que melhorou.
No entanto, quando perguntados sobre o atual desempenho dos serviços, as avaliações foram mais generosas: entre 30% e 50% classificaram o atendimento de ótimo e bom, com uma nota média de 6,5 para os postos de saúde municipais. Segundo Ana Maria Campos, que participou da pesquisa, um levantamento do Gallup de 92 deu nota 7,8 para esses postos.
Consultado sobre a pesquisa, o ex-secretário da Saúde da gestão Luiza Erundina, Carlos Neder, observou: "A situação está tão precária que aqueles que conseguem ser atendidos já se sentem bem."
Segundo ele, as pessoas comparam o atendimento do Estado com o da prefeitura, conformando-se com o fato de ser atendido. "Compara-se o ruim com o pior."
A pesquisa foi realizada nas três últimas semanas. Os Movimentos Populares de Saúde surgiram das comissões de saúde do início dos anos 70. Em 79, foi criado o primeiro conselho de fiscalização. Hoje são 150 conselhos eleitos por cerca de 200 mil pessoas e agrupados em movimentos por região.
Segundo Neder, a Constituição de 88 deu poderes deliberativos a estes conselhos, mas a atual administração municipal enfraqueceu os distritos de Saúde, concentrando poderes na secretaria.

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