São Paulo, quinta-feira, 24 de março de 1994
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A culpa não é da inflação

WERNER EGON SCHRAPPE

Dois importantes segmentos sociais –empresários e trabalhadores– do Paraná deram, recentemente, uma demonstração de elevada consciência de nacionalidade, com o movimento "Luto pelo Brasil" que, felizmente, conquistou notoriedade nacional. Se o movimento encontrou respaldo da sociedade civil, do povo, o mesmo não aconteceu com as esferas político-governamentais. Fingiram que não viram e fizeram de conta que não ouviram. Como de costume.
Importante é que os principais segmentos sociais resolveram agir. E, apesar da intransigência oficial, continuarão mantendo o mesmo comportamento objetivando orientar os processos político-administrativos no sentido de uma atuação autêntica e desatrelada de interesses menores. Empresários e trabalhadores do Paraná deram exemplo. Deixaram de lado suas questões intestinas para se unir em torno do objetivo maior, coletivo, em nome do interesse nacional.
O Brasil não pode mais conviver com altas taxas de inflação e de desemprego. Também não consegue mais arcar com o ônus fiscal ditado pelos interesses corporativistas governamentais onde continua prevalecendo o desperdício dos recursos gerados pela sociedade. Governo e sociedade devem encontrar um ponto de equilíbrio para que o país possa, realmente, dar início a um processo de recuperação econômica e social e a um projeto desenvolvimentista.
Mas, para que isto seja possível, é preciso que os setores oficiais responsáveis façam o que deve ser feito: dar solução aos crônicos e graves problemas estruturais. A inflação não é o mal maior, é consequência do conservadorismo e do arcaísmo destas estruturas. Também é preciso que o governo deixe de confundir plano com planejamento. O país vem colecionando planos desde o início da chamada Nova República. Todos sem objetividade, sem praticidade e sem levar em conta a necessidade de um macroplanejamento que oriente caminhos definitivos, firmes e seguros. Entre um plano e outro muda apenas o estilo daqueles que os engendram. De resto, principalmente a essência, é tudo a mesma coisa.
A sociedade organizada e consciente deve continuar gritando bem alto que o país precisa de reformas urgentes e não de planos mirabolantes –troca de moedas, indexadores etc.. São necessárias reformas fiscal, monetária, legal, orçamentária, do setor externo e uma verdadeira desregulamentação da economia. Estas, sim, são reformas estruturais que poderão dar um novo perfil ao processo político-institucional e ao conceito de vida organizada em sociedade.
A reflexão sobre as novas medidas desencadeadas pelo governo do presidente Itamar Franco, mesmo que seja consenso que o chefe da nação é uma pessoa bem intencionada, leva, forçosamente, à conclusão de que "por um ponto final à inflação privaria o governo da receita que ele atualmente obtém sem legislação. Produziria, igualmente, um período temporário, embora talvez bastante prolongado, de recessão ou queda dos negócios e uma taxa relativamente alta de desemprego".
Esta transparência reflete o verdadeiro objetivo dos planos. O governo (os governos recentes rezaram pela mesma cartilha) prefere afundar e não abrir mão de receitas que não o perturbem. Desconhecem as maravilhas da livre iniciativa e a potencialidade produtiva da sociedade civil. Os verdadeiros obstáculos à eliminação da inflação são políticos, não econômicos. O exemplo está no presente.

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