São Paulo, quinta-feira, 24 de março de 1994
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Projeto da Igreja para o Brasil

LUIZ DEMÉTRIO VALENTINI

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lança, hoje, em Brasília e várias capitais do país, o documento "Brasil: Alternativas e Protagonistas". São 124 páginas que colocam em discussão projetos alternativos e protagonistas para o Brasil sair da crise. Esse documento não é definitivo. Quer ser um texto aberto ao debate nacional. Pois é o "instrumento de trabalho" para a 2ª Semana Social Brasileira, a se realizar em Brasília de 24 a 29 de julho.
O resultado dessa semana será o "projeto estratégico alternativo" a ser entregue aos candidatos à Presidência da República e ao Congresso Nacional. A intenção da CNBB é contribuir para a busca de um projeto de país, que compreenda o conjunto da situação brasileira e venha ao encontro das reais aspirações do povo brasileiro.
Esse instrumento de trabalho recolhe as propostas das Semanas Sociais Regionais realizadas em todo o Brasil, no segundo semestre do ano passado, após consultas iniciadas em 1992. Esse documento ainda não se apresenta de forma acabada, mas quer ser um estímulo para que o debate se aprofunde e envolva sempre mais a sociedade. A exigência ética é o eixo das três partes em que se divide o documento, que diagnostica a realidade, mostra os protagonistas e propõe perspectivas.
A primeira parte identifica cinco problemas nacionais: concentração de renda, concentração política, concentração da terra, apartação social e violência. Analisa nesse contexto o desenvolvimento econômico, estado democrático, cidadania contra dominação, sujeitos populares e valores emergentes. Nesse momento nacional, projeta a indignação ética da sociedade, com suas exigências de dignidade humana no campo ético.
A segunda parte mostra os protagonistas populares dessa mudança ética do país. Registra a prática de novas alternativas para um Brasil economicamente justo, socialmente solidário, politicamente democrático e culturalmente plural. Canalizar essa vontade popular é tarefa política que precisa envolver adequadamente todos os que sentem responsabilidade neste país, também a Igreja por evidentes razões históricas.
A terceira parte do "instrumento de trabalho" propõe perspectivas em 12 enfrentamentos concretos: reforma agrária, reforma urbana, educação, saúde, meios de comunicação, Judiciário, meio-ambiente, dívida externa, Mercosul, aparelho coercitivo, política carcerária e fortalecimento da sociedade.
Essas urgentes transformações só serão viáveis se forem sustentadas por valores éticos que garantam motivação verdadeira e critérios de ação. A Igreja se sente no compromisso de contribuir para resgatar esses valores. Para que os valores éticos estejam presentes em todos os desdobramentos políticos que este ano eleitoral já desencadeou no Brasil.
Por isso que a 2ª Semana Social Brasileira coloca na ética a referência constante dos debates que suscita. A Igreja quer incentivar com essa semana o clima já existente de participação consciente, vontade política, busca solidária e diálogo aberto. A Igreja espera assim contribuir no importante momento que o Brasil está vivendo.
Ao propor essa iniciativa, que encontrou uma receptividade além de suas expectativas, a Igreja não quer substituir a nenhuma instância política organizada da sociedade. Nem muito menos apresentar soluções acabadas ou modelos prontos. Consciente da sua responsabilidade histórica, fruto de sua participação intensa na vida nacional e instada a marcar presença neste ano decisivo para o Brasil, a Igreja percebe que tem uma contribuição indispensável a dar.

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