São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Há algo mais por trás disso', diz Gallotti

EDIANA BALLERONI
COORDENADORA DE ECONOMIA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Octávio Gallotti, disse ontem à Folha que o motivo alegado para a crise entre os Três Poderes é tão pequeno, que faz supor a existência "de algo mais por trás disso".
Gallotti prefere não cogitar o que poderia ser esse "algo mais".
Folha - O sr. vê na questão salarial um motivo suficiente para a crise entre os Três Poderes?
Octávio Gallotti - De fato, a questão dos 10,94% é tão diminuta, é um motivo tão pequeno, que nos autoriza a concluir que há algo mais por trás disso.
Folha - O que seria?
Gallotti - Prefiro não cogitar sobre isso.
Folha - Mas o fato de o Supremo não admitir perder os 10,94% foi interpretado como um abuso.
Gallotti - O Supremo vem reformando sucessivas decisões de instâncias inferiores que davam ganhos salariais ao Judiciário. Foi o caso das perdas do Plano Collor; das diferenças relativas à URP, uma delas referente ao Plano Bresser; os servidores civis pediram a extensão do aumento de 45% dado aos militares, e nós não concedemos. Revimos mais de uma dezena de decisões em que Tribunais Regionais do Trabalho se autoconcediam aumentos. Os 10,94% –que não são um ganho, apenas deixamos de perder– são, repito, um motivo muito pequeno. Não há suporte econômico para uma crise política. É por isso que, volto a dizer, tudo leva a crer que há algo mais por trás desse pretexto.
Folha - O STF buscou uma saída negociada para a crise? O sr. conversou com o Executivo, com os militares?
Gallotti - Não procurei, nem fui procurado por ninguém do Executivo ou pelos militares.
Folha - Mas a reunião realizada ontem (anteontem) entre o procurador-geral da República, o secretário de Assuntos Estratégicos e parlamentares contou com a presença de dois ministros do Supremo.
Gallotti - Não soube dessa reunião com antecedência e, ao que sei, não teve caráter formal.
Folha - O Supremo vai adotar alguma medida jurídica contra o Executivo? O tribunal pode ser parte em uma ação?
Gallotti - A jurisprudência tem reconhecido a capacidade processual de órgãos como o Senado, a Câmara, tribunais. Portanto, acredito que sim, o Supremo poderia ser parte. Mas o STF não cogitou de nenhuma medida jurídica por enquanto.

Texto Anterior: Congresso intervém e faz nova proposta de acordo
Próximo Texto: Lucena acha 'inexplicável' ação de Itamar
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.