São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Rádio falha e conversa sigilosa de PMs é gravada

DA REPORTAGEM LOCAL

Aparelhos de radiocomunicação comprados ao final do governo Orestes Quércia, por US$ 60 milhões, falharam.
Tais equipamentos permitiriam à PM manter suas conversas e trocas de informações em segredo, num circuito a que teriam acesso apenas os que possuem, além de aparelhos iguais, uma frequência de rádio exclusiva.
Mas uma conversa de 30 minutos no sistema de rádio da Polícia Militar vazou. E revelou que oficiais da PM de São Paulo torciam pelo fracasso da operação que tentava libertar, na semana passada no Ceará, o cardeal-arcebispo de Fortaleza, dom Aloísio Lorscheider, e outros 11 reféns.
Dois dos oficiais, cujos nomes não são revelados pela Secretaria de Segurança, nem pela PM, estão presos por indisciplina.
Na noite do último dia 15, depois de o governador do Ceará, Ciro Gomes, ter pedido ajuda ao governador Fleury, este autorizou a ida do GER (Grupo Especial de Resgate) da Polícia Civil para o local do sequestro, o Instituto Penal Paulo Sarasate, em Fortaleza.
Em sua frequência de rádio exclusiva, depois de um oficial de nome Cesar ter assistido ao Jornal Nacional (TV Globo), às 20h40 começava a conversa de 30 minutos que envolveu pelo menos quatro oficiais da PM.
As polícias Civil e Militar têm frequências de rádio diferentes e exclusivas, como se a Civil usasse a faixa AM e, a Militar, a FM.
O diálogo foi todo ouvido, e gravado, pela Polícia Civil. Trechos foram captados por emissoras de rádio. A conversa é a base do inquérito administrativo que está em mãos de Secretario de Segurança de São Paulo, Odyr Porto.
Num trecho, o oficial Cesar diz: "Eles estão entrando no avião, tão mandando o GER, aqueles caras não entendem nada". Durante a conversa, a Polícia Civil é chamada de "incompetente".
"Nós estamos aqui de camarote, contando com o resultado negativo deles", afirma um oficial durante o diálogo. Outro torce para "eles fazerem uma caca" e uma "cagada". Se terminasse mal o sequestro, comentam os oficiais, a PM poderia "trabalhar em cima".
Em novembro de 1989, sendo Quércia o governador e Luis Antonio Fleury o secretário de Segurança, o governo autorizou a compra de equipamentos de rádio.
À época os rádios –que são utilizados como se fossem aparelhos de telefone celular– foram comprados da empresa Motorola, de Israel. A compra dos aparelhos foi feita sem concorrência.
Como consequência disto, o preço teria sido excessivamente alto, segundo acusações que estão sendo investigadas pelo Superior Tribunal de Justiça, em Brasília.

Texto Anterior: Restauração do centro deve acabar em 4 meses
Próximo Texto: Ciro pediu ajuda a Fleury
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.