São Paulo, sábado, 26 de março de 1994
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Jecas de Interlagos

FLÁVIO GOMES

FLAVIO GOMES
E chega o Mauro, esbaforido, nosso voluntarioso enviado especial à graxa e aos parafusos. Bravo Tagliaferri, da Reportagem Local. Já aguentou dois dias de labuta nos boxes da Jordan para sentir de perto a vida numa equipe de Fórmula 1. E, ontem, quando os carros andaram pela primeira vez, bateu a sensação de que o legal das corridas não são elas, não são exatamente as máquinas na pista, mas sim a expectativa que cerca o gran finale.
Foi mais ou menos assim o primeiro dia da Fórmula 1 em 94. Um anticlímax porque as previsões foram confirmadas. Senna vai ser campeão e nada mudou. A Williams continua sendo o máximo. No fundo, todo mundo queria uma baita surpresa.
Estou entre os que não acreditam em grandes novidades, opinião que venho mantendo firme nas últimas duas semanas. Nestes dias de Interlagos, minha casa na semana do GP Brasil, percebi que a tábua de salvação da F-1 está nas horrendas máquinas de reabastecimento que serão as grandes estrelas da corrida de amanhã. Já tem gente torcendo para pegar fogo em algum carro só para ter emoção.
Não vou tão longe. Se as bombas de gasolina funcionarem tão bem quanto as do posto lá de onde eu moro, a emoção está garantida. Dia sim, dia não, falta gasolina. "Acabou", é o que mais ouço do frentista. Ou então a bomba emperrou. Duvido que alguma dessas máquinas vá emperrar, mas que seria legal, isso seria.
Essa corrida de Interlagos já está se esgotando. Algo precisa ser feito urgente. Faltam peruas! Eu, que reclamava tanto dos bicões, da gentinha que se acha famosa atrapalhando o trabalho nos boxes, já estou sentindo falta. Tá cheio de jeca em Interlagos.
Houve uma invasão de telefones celulares. Não existe nada pior do que novo-rico ligando para o escritório de celular e pedindo para o sujeito do outro lado da linha falar mais alto porque o motor do Senna está ligado. Até eu estou de celular. Não ouço nada sem motor, imagina com carro funcionando.
A F-1 não precisa recuperar só a competição. Precisa correr atrás do glamour de novo. A jequice (não sei se existe a palavra, mas vá lá) não é privilégio de São Paulo. Está se espalhando pelo mundo, porque qualquer um que tenha alguns dólares em caixa vira convidado vip. Príncipes, princesas, nobres em geral, mexam- se! Comprem a F-1 do Bernie e cassem as credenciais! Morte aos jecas!

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