São Paulo, sábado, 26 de março de 1994
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Mecânico acorda com as galinhas

E o barulho desperta todo mundo

MAURO TAGLIAFERRI
DA REPORTAGEM LOCAL

Comparada com o dia de ontem, a quinta-feira foi puro tédio. Senhoras e senhores, começou a ação!
A F-1 acorda com as galinhas. Logo cedo a movimentação nos boxes da Jordan é grande. Quando cheguei a Interlagos, todos já estavam compenetradíssimos para que os carros de Rubinho e Irvine ficassem prontos às 9h30, início dos treinos livres.
9h30 - Na hora marcada, acionar motores. E, aí, se alguma galinha não havia acordado ainda, coitada! O barulho impõe respeito. Grave, na marcha lenta, um ronco. Estridente, histérico, nas acelerações.
Ian, um companheiro de box, percebeu quando tapei os ouvidos e me arrumou dois protetores amarelos. Deve ter ficado lindo, duas esponjinhas amarelas saltando da minha orelha, mas o importante é que aliviou bastante o ruído.
Foi tão eficiente, que eu já nem escutava o que as pessoas me diziam (tem esse detalhe).
Quando os carros saíam, eu entrava em ação. Vassoura e pá nas mãos, eliminei a sujeira que os bólidos traziam da pista.
E, quando retornavam, também pude ser útil. "Acho que Irvine quer o monitor", advertiu-me um mecânico. Lá fui eu segurar a televisãozinha para o Eddie.
Aliás, eu sempre quis saber o que havia atrás daquele monitor que os pilotos observam tão compenetrados. Finda-se o mistério. Quem chutou "é a transmissão do treino pela TV", acertou. Quem tentou "é uma tela com os tempos de todos os pilotos" também chegou lá. Há um botão para o freguês mudar as telas e ver o que lhe interessa, no melhor estilo TV a cabo.
11h30 - Entre o treino livre e o oficial, a equipe trabalha para consertar um problema no câmbio do carro de Rubinho. O piloto, nesse meio tempo, relaxava numa maca enquanto três massagistas (japoneses, tem esse detalhe) ajudavam-no a se preparar para o treino da tarde.
Nesse momento, a televisão (sempre a imprensa!) requer uma palavra de Rubinho. Ele concede, interrompendo a massagem. Mas, em casa, você só viu parte da cena. Na metade de baixo, cuecas (ou alguém faz massagem de "smoking"?).
13h - Treino oficial. Agora é tentar baixar os cerca de 1min20 obtidos de manhã. Valeu de tudo, até a prece silenciosa da irmã de Barrichello, Renata. E não foi só. Vi muito marmanjo fazendo o sinal da cruz quando o piloto acelerou.
O resultado, 10ª posição, foi bem recebido por Don. "Estamos entre os top ten", disse o chefe dos mecânicos.
Hoje tem mais treino. E, amanhã, o ato final desse espetáculo de máquinas e homens. Já ouço alguém me chamar. Há muito trabalho pela frente. Vamos a ele, então. Amanhã eu conto como foi.

O jornalista Mauro Tagliaferri está empregado na equipe Jordan até domingo

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