São Paulo, sábado, 26 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Balbúrdia federal

O comportamento da Polícia Federal no que se refere à crise salarial entre os Poderes dificilmente poderia ser mais deplorável. A sucessão de declarações descabidas tem de fato transmitido para o país a imagem de uma corporação que perdeu de vista noções básicas como disciplina e hierarquia, tanto no âmbito interno quanto com relação a outros órgãos públicos.
O diretor da PF, o coronel da reserva Wilson Romão, deu início aos despropósitos ao declarar para uma rede de TV de que não acataria um eventual mandado de prisão do Supremo contra o presidente do Banco do Brasil. Afirmou que obedeceria apenas ao presidente da República e ao ministro da Justiça. O despautério é flagrante. Não cabe ao diretor da Polícia Federal –ou a quem quer que seja– escolher se quer acatar ou não uma decisão da mais alta corte do país. Num Estado de Direito, essas deliberações são simplesmente cumpridas.
Não bastasse isso –e basta–, por mais que o ignore o diretor Romão, um dos deveres constitucionais da PF é exatamente o de exercer as funções de polícia judiciária.
O espetáculo porém prosseguiu. Em reação às declarações de Romão, o sindicato dos agentes da Polícia Federal (que estão em greve) resolveu intervir da forma mais inadequada possível, alardeando através do seu presidente que estavam prontos a desobedecer ao seu diretor e prender quem quer que o Supremo determinasse –inclusive o próprio Romão. Ora, é evidente que seguir as decisões do STF seria a única atitude possível no caso, independentemente do que houvesse dito o diretor da corporação. Assim, não havia nenhuma razão para anunciá-lo a todo o país.
Longe de servir para reafirmar a subordinação da PF à Justiça, o que essa confrontação aberta faz é revelar para a população a balbúrdia vigente no seio de uma das mais importantes forças de segurança pública do país. Afinal, se é uma aberração inominável que o diretor da PF desafie abertamente o Supremo Tribunal Federal, é também absurdo que agentes desafiem abertamente o diretor da PF. Insubordinação e indisciplina colocam não só a eficiência da corporação em risco, como também a parcela de respeito que ainda lhe dedica a sociedade.

Texto Anterior: Na surdina
Próximo Texto: Risco latino
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.