São Paulo, sábado, 26 de março de 1994
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Risco latino

O assassinato do candidato oficial às eleições presidenciais do México, Luis Donaldo Colosio, gerou uma reação rápida nos mercados financeiros internacionais. Subitamente o México, exemplo de ajuste econômico e estabilidade política na América Latina, voltou a ser visto como território de risco.
Há uma semelhança com o Brasil dos últimos anos. Quando as expectativas de modernização parecem máximas, quando o anseio de entrar para o Primeiro Mundo parece mais próximo de tornar-se realidade surge uma catástrofe política. Aqui, a modernidade revelou-se caricata e corrupta. Lá também, com a morte de Colosio, mas também com a revolta de Chiapas e o sequestro de um importante empresário, subitamente revela-se uma enorme distância entre as apostas na modernização e a realidade política de uma sociedade ainda imatura, com instituições frágeis.
As mudanças econômicas no México, entretanto, parecem ter alcançado nos últimos anos um ímpeto decisivo. A economia mexicana estabilizou-se, abriu-se e se integrou ao Nafta (associação de livre comércio da América do Norte).
A tal ponto essa mudança estrutural da economia mexicana é real que o presidente Clinton, após a catástrofe política que foi o assassinato de Colosio, imediatamente abriu uma linha de crédito de US$ 6 bilhões para evitar corridas especulativas contra o peso mexicano.
Resta saber se o sistema político mexicano será capaz de corresponder a essa confiança demonstrada pelo presidente dos EUA. O candidato assassinado fora escolhido pelo atual presidente mexicano, Carlos Salinas de Gortari, numa prática que é a herança de um sistema político na prática unipartidário.
A partir de agora, coloca-se o desafio de uma nova escolha. É bom, para os que apostaram de pronto no México, como Clinton, que ela seja rápida. Mas é ruim, para o amadurecimento político e institucional do país, que uma decisão tão crucial seja ainda adotada de forma imperial num momento de dúvidas sobre o vigor do PRI. Afinal, sabe-se que a fragilidade política e institucional sempre foi o principal ingrediente do risco latino.

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