São Paulo, domingo, 27 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasil desenvolve pelo menos mais seis satélites

HÉLIO GUROVITZ
DO ENVIADO ESPECIAL

Em tecnologia espacial, a qualidade total é a única possível. Ninguém pode arriscar uma falha mecânica ou eletrônica em pleno espaço.
O primeiro satélite genuinamente nacional passou a girar em torno da Terra em 9 de fevereiro de 1993. Seu nome: Satélite de Coleta de Dados, ou SCD-1. Além dele, estão em andamento mais seis satélites, pelo menos.
O primeiro será um irmão gêmeo do SCD-1, o SCD-2, que está neste momento sendo montado no Laboratório de Integração e Testes (LIT) do Inpe. Deve estar pronto até o fim do ano, diz o chefe do LIT, Clovis Solano Pereira, 49. Ele vai substituir o SCD-1, cuja vida útil deve terminar em um ano.
Os satélites da família SCD recebem dados meteorológicos –temperatura, umidade etc.– de cerca de 25 estações espalhadas pelo país. Eles retransmitem esses dados em tempo real para os centros de controle do Inpe –em Cuiabá (MT), Alcântara (MA) ou São José dos Campos (SP).
Depois os dados são centralizados em São José dos Campos e podem ser usados em vários estudos. A aplicação vai desde a previsão de enchentes até a avaliação de incêndios florestais.
Para controlar um único satélite, os computadores do Inpe usam cerca de 2.000 programas, com mais de 184 mil linhas de código. "Além do plano de controle nominal, há planos alternativos, para o caso de algum evento fora do esperado", diz Pawel Rozenfeld, 50, chefe do Centro de Rastreio e Controle de Satélites.
Segundo ele, é preciso prever e testar tudo com o satélite ainda no chão. Antes de ser construído o satélite que sobe de fato, cinco modelos são submetidos aos mais diversos tipos de testes para haver certeza absoluta de que nada vai dar errado.
O irmão mais novo da família SCD, o recém-aprovado SCD-3, vai trazer uma novidade: será o primeiro satélite nacional a testar um equipamento de telecomunicação em baixa altitude. O objetivo final é colocar oito satélites no espaço para que seja possível usar telefones móveis em todo o território nacional.
Além dos satélites de coleta de dados, o Brasil vai construir dois satélites em cooperação com a China: os Satélites Sino-Brasileiros de Recursos Terrestres (CBERS-1 e CBERS-2). Só 30% dos projetos estarão a cargo do Brasil. O primeiro CBERS deve ser lançado em outubro de 1996. O segundo, em 1998.
Esses dois satélites poderão tirar fotografias do solo, usadas para avaliar desmatamentos e na previsão do tempo, por exemplo. São conhecidos como satélites de sensoriamento remoto. Assim como os Satélites de Sensoriamento Remoto SSR-1 e SSR-2, que o Brasil vai tentar desenvolver sozinho. O SSR-1 deve subir ao espaço também em 1996. Ele e o CBERS-1 devem estar em órbita ao mesmo tempo, devido ao atraso no programa de satélites –o SSR-1 estava previsto para 1994.
Nenhum desses satélites pode ser comparado ao satélite de telecomunicações Brasilsat B-1, comprado da empresa norte-americana Hughes e testado atualmente no LIT. Ele será colocado em órbita no meio do ano.
O Brasilsat B-1 tem capacidade para transmitir 28 canais de TV ou, no lugar de cada canal, 8.000 linhas telefônicas. Ele também terá um canal especial para uso militar –a banda X. Além disso, é mais potente que os satélites de telecomunicações brasileiros atualmente em órbita –os satélites Brasilsat da série A.(HGz)

Texto Anterior: Bases dos EUA sofrem concorrência crescente
Próximo Texto: Telecomunicação é o novo combustível
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.