São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 1994 |
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Acidente de Senna decepciona público
JOSÉ CARLOS CHAVES
Muitos começaram a deixar as arquibancadas logo depois do acidente, faltando ainda 16 voltas para o término da corrida. Jair Alves Menezes, 22, e sua namorada, Míriam Guimarães, 19, simbolizavam a frustração geral. Viajaram de ônibus do Rio de Janeiro, na terça-feira, somente para presenciar Senna subir ao pódio. "Já dávamos a vitória como certa. Só viemos conferir ao vivo", conta Jair, torcedor do tricampeão mundial há mais de dois anos. Passando a mão no rosto para enxugar algumas lágrimas, Míriam saía do seu primeiro GP inconformada com o resultado. "O que mais dói é que ele nem chegou ao final da prova." O aposentado Luís Borges, 75, voltava pela primeira vez após muitos anos a Interlagos para ver o GP de São Paulo. Junto, trazia seu neto de 12 anos. "Na verdade, foi ele que fez questão de me trazer aqui", brinca. Ambos acompanharam todos os treinos e fizeram questão de chegar ao autódromo às 6h30. Borges diz que também esperavam pela vitória do piloto brasileiro. "Realmente foi uma decepção, porque todo mundo achava que o Senna ia ganhar. Mas ele ter saído da corrida foi uma frustação maior ainda." Todo esse ar de tristeza e desolação, porém, contrasta com o clima de alegria e festa que reinava antes da prova no setor G da torcida, de preços mais populares. Para garantir um lugar, era necessário chegar bem cedo. Quem se atrevia a tentar disputar um vaga nos assentos superiores depois das 11h estava se arriscando a ser expulso sob o coro de "Desce!", "Acorda cedo" e similares. Nem os estrangeiros eram perdoados, fossem argentinos, alemães, italianos ou americanos. Os mais afoitos faziam questão de recorrer aos músculos, mesmo sob os olhares tranquilos dos policiais militares que faziam a segurança. "É, realmente está muito cheio. Até parece que eles venderam mais ingressos do que podia", comentou um PM a uma torcedora. Para evitar mais problemas, os espectadores criaram um código. Quem saísse para ir ao banheiro e voltasse ao lugar teria que repetir uma senha, para impedir a entrada dos mais "espertinhos". Algumas vezes, a Torcida Ayrton Senna estendia uma bandeira de 600 metros quadrados com a rosto do Senninha (personagem infantil de quadrinhos inspirado nele), que demandou trabalho de dez pessoas por quase 48 horas consecutivas. O festejo só terminou no fim da corrida, que para a torcida aconteceu com o acidente de Senna. Texto Anterior: Para Edílson, falta dedicação Próximo Texto: Ituano continua sem vencer no Paulista Índice |
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