São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 1994
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Câmara emprega boys que odeiam política

Teens ignoram funcionamento do Congresso Nacional

CYNARA MENEZES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Se você não sabe o que é projeto de lei, fique tranquilo: nem os adolescentes que trabalham no Congresso Nacional sabem.
Os 192 garotos e garotas do projeto Pró-Adolescente da Câmara, mesmo esbarrando o dia todo em deputados e senadores, não têm a menor idéia do que se passa por ali. Eles trabalham como mensageiros (office-boys) e ganham salário mínimo.
"Os políticos só falam besteira", diz Fernanda Oliveira, 16, que acompanha algumas vezes as sessões pelo sistema de som. "Eu achei um absurdo eles ficarem discutindo que a namorada do presidente (a modelo Lilian Ramos) estava sem calcinha, quando o Brasil está cheio de problemas", criticou.
Pelo corredor, empurrando um carrinho abarrotado de pareceres sobre a revisão constitucional, vem Luciano Borges, 17. "Revisão? Eu não sei nada sobre isso", admite Luciano, que prefere jogar capoeira na cidade-satélite de Ceilândia. Como ele, a maior parte dos teens do projeto vem das cidades-satélites, espécie de subúrbio de Brasília.
Simone Fagundes, 14, trabalha na liderança do PT e acha o líder José Fortunatti (RS) "simpático", mas conta que o único político de que gostava já morreu: era o deputado Ulysses Guimarães. Para Patty Vieira, 17, o trabalho como mensageira no Congresso serviu para desmitificar a figura do político. "Eles eram para mim como artistas da televisão. Depois que vim para cá, vi que eram gente de carne e osso, como qualquer um."

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