São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 1994
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PAVEMENT

JIM GREER
DA "SPIN"

Quando ouvi pela primeira vez o novo álbum do Pavement, "Crooked Rain, Crooked Rain", tive certeza de que era secretamente um disco-resposta a "Reckoning" do R.E.M..
Não é uma idéia tão boba como pode parecer: Pavement participou recentemente da compilação "No Alternative", em benefício da Aids, com uma canção chamada "Unseen Power of the Picket Fence", uma homenagem à banda da Georgia –o R.E.M.. Gostaria de saber se eles receberam alguma resposta do grupo.
Quando me encontrei recentemente com os cinco integrantes do Pavement, naturalmente o assunto veio à tona. "Parece que Michael Stipe telefonou para alguém e perguntou se 'estávamos tirando um sarro"', disse o baixista Mark Ibold.
"Depois eu soube que quando ele entendeu que era um cumprimento", continuou o segundo baterista Bob Nastanovich, "ele queria dançar no palco se fôssemos tocar no show 'No Alternative' da MTV. Isso cortou qualquer possibilidade de que aquilo acontecesse."
"Tentamos fazer um bom disco", afirma o guitarrista e vocalista Stephen Malkmus. Seu comentário sobre "Crooked Rain, Crooked Rain", o segundo LP do grupo, provoca resmungos de divergência do resto da banda, mas Malkmus não se deixa dobrar. "É estimulante para mim, num sentido divertido. Há um conteúdo desavergonhadamente pop neste disco."
Voltando ao início: "Scott (Kannberg, o 'Spiral Stairs') e eu provavelmente nos conhecemos quando eu tinha dez anos", conta Malkmus. Mas o Pavement só começou em 1989, em Stockton, Califórnia, logo depois que Malkmus voltou da Universidade de Virgínia e uma noite tomou um porre com Kannberg.
Escreveram algumas canções e decidiram lançar um single (chamaram o selo de Treble Kicker). O resultado desse improviso, "Slay Tracks (1933-1969)", apresentando Gary Young na bateria, recebeu notas baixas da comunidade "indie rock".
Logo depois o Pavement gravou outro single, chamado "Demolition Plot J-7", que foi lançado por um selo desconhecido de Chicago, o Drag City. Em seguida um EP (tamanho intermediário entre compacto e LP) de 10 polegadas, "Perfect Sound Forever", também pela Drag City.
Com o lançamento de "Slanted and Enchanted" pelo poderoso selo Matador em 1992, a situação mudou. O disco foi considerado o melhor do ano pelos editores da revista "Spin", e foi o segundo colocado na pesquisa anual Pazz & Jop, do "Village Voice", junto aos críticos.
Ainda em 1992 saiu um outro EP, "Watery, Domestic", contendo "Shoot the Singer", a melhor canção do Pavement até então, e no início de 1993 houve o lançamento de "Westing (By Musket and Sextant)", do selo Drag City, uma compilação dos primeiros singles e do EP "Perfect Sound".
Isso quase nos traz a "Crooked Rain". No entanto, há primeiro a questão do baterista original Gary Young, que amigavelmente retirou-se do grupo em 1993. Young sempre apareceu deslocado na banda, um quarentão beberrão e ex-hippie, cujo envolvimento com o Pavement foi resultado, pelo menos no início, de pura conveniência: ele era o dono do estúdio Stockton, que Malkmus e Kannberg escolheram para gravar.
O que se tornou realmente um problema insolúvel, foi a incapacidade de Young de compreender a falta de vontade dos integrantes da banda de tornarem-se principalmente artistas de gravações. Sai Young, entra o novo baterista Stephen West, natural de Richmond, Virginia e amigo de escola de Nastanovich, que já conhecia e tinha tocado com Malkmus, antes do Pavement. Logo depois o grupo passou dois meses em Nova York gravando; o resultado foi "Crooked Rain, Croocked Rain".
"Fazer este disco foi mais preocupante do que fazer "Slanted and Enchanted", confessa Malkmus. "Quando estávamos fazendo 'Slanted' não tínhamos ninguém para lançá-lo. Pensávamos 'Bem, talvez Drag City o lance.' Mas quanto a este, sabíamos que havia muita expectativa."

Tradução: Sônia Pimentel de Mello

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