São Paulo, terça-feira, 29 de março de 1994
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Filha de Xiaoping virá à Bienal de SP

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os ecos da China parecem cada vez menos distantes. "Ecos Distantes" é o nome da exposição que revelou ao Ocidente a artista Deng Lin, 52, filha do primeiro-ministro chinês, Deng Xiaoping. E que a revelará ao Brasil na 22ª Bienal Internacional de São Paulo, em outubro. A Folha apurou com exclusividade que Lin terá sala especial no evento e virá ao país para sua inauguração.
Três artistas chineses já haviam sido confirmados: Wang Guangyi, Li Shan e Yu Youhan (leia texto abaixo). Estes virão como representantes de seu país. É a primeira vez que a China participa de uma Bienal de São Paulo. Deng Lin, por sua vez, participa como artista convidada, não dentro da representação chinesa oficial.
Política
O dono da idéia é Jens Olesen, o diretor internacional da 22ª Bienal. "Achei que ela é uma artista muito interessante e que só enriqueceria a participação chinesa na Bienal", disse Olesen à Folha. O presidente da Fundação Bienal, Edemar Cid Ferreira, também é um entusiasta da presença chinesa: "Se a 22ª Bienal pretende ser um espelho o mais amplo possível da arte atual, a China, como nova potência econômica e pólo cultural, é uma participação indispensável".
Ferreira diz também que a participação chinesa na última Bienal de Veneza (1993) "teve muita repercussão" e faz questão de ressaltar "o significado político e artístico" da vinda a São Paulo. "Tanto a China como o Brasil estão em momentos históricos especiais, então acho que a vinda da China combina as coisas." Também a Rússia participa este ano da Bienal de São Paulo pela primeira vez.
Pós-89
Os três artistas-representantes que vêm ao Brasil estiveram na última Bienal de Veneza, ao lado de outro nome da arte contemporânea chinesa, Wang Ziwei. Deng Lin não estava. E isso faz sentido porque, enquanto aqueles são praticantes do estilo batizado de "pop pós-Tian An Men" (nome da praça onde se deu a revolta conhecida como Primavera de Pequim, em 1989, contra a ditadura comunista) ou "realismo cínico", Deng Lin não faz nada semelhante.
Os três foram negociados pela Bienal junto à galeria Hanart TZ, uma das mais importantes sediadas em Hong Kong. Hong Kong, com seu nível de avanço capitalista, tem sido a porta de saída dos artistas da China continental (comunista) para o mercado mundial.
Foi a Hanart TZ que organizou em 1991 em Hong Kong a exposição "Nova Arte da China, Pós-89", com 200 obras de 51 artistas chineses, que mereceu uma reportagem de duas páginas na revista "Time" americana.
Deng Lin
A vinda de Deng Lin não veio de negociação com a TZ. "Foi muito mais complicada", diz Olesen, "e envolveu o Itamarati e o governo chinês." Lin trará à Bienal um estilo completamente diferente do de seus contemporâneos. A série "Ecos Distantes", que deverá vir, são tapeçarias em seda que se relacionam –não com a arte americana, como os outros– e sim com a arte tradicional chinesa. Mas por um prisma moderno, inspirado sobretudo no trabalho do pintor Wu Changshuo (1844- 1927), com suas pinceladas fortes e expansivas.
Lin procura lidar com a expressão caligráfica que é a marca registrada de boa parcela da arte chinesa. Mas Lin também lança mão, em suas tapeçarias, de uma anarquia que não existe na tradição –manchas de tinta que quase tomam conta do branco do fundo. Se o pai de Lin está abrindo a economia chinesa ao livre-mercado, ela está mudando a tradição chinesa da pintura caligráfica.

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