São Paulo, sábado, 2 de abril de 1994
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Nova associação quer leis para autogestão

PAULO DORNELES ROSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma nova forma de administração do gestão do processo produtivo de empresas começa a engatinhar no Brasil, a autogestão. Onze empresas que entraram nessa reuníram-se em São Paulo na semana passada e decidiram formar uma associação.
A autogestão, que ocorre principalmente em São Paulo, tem sido até agora um processo penoso. Inicia normalmente com a tentativa de salvar ou reerguer uma empresa em processo de fechamento ou de abandono da atividade e passa pela reeducação do funcionário, que será também responsável pelo seu controle gerencial.
As onze empresas criaram também um grupo técnico que fará um diagnóstico econômico-financeiro das mesmas e elaborará um projeto de legislação específica, cuja falta é apontada como um dos principais entraves para o desenvolvimento dos projetos.
A não-existência de uma legislação dificulta que essas empresas, geralmente nascidas de empreendimentos mal sucedidos, vençam exigências burocráticas e tenham acesso a linhas de crédito facilitadas, que levem em conta suas dificuldades iniciais e importância social.
"Banco não investe em nada que não tenha garantia e trabalhador não pode oferecer garantia", resume Aparecido Faria, economista do Dieese e responsável pela realização e implantação de projetos de autogestão. "No curto e médio prazo precisamos de um plano nacional de investimento com recursos canalizados para essas iniciativas", afirma.
Tiago Nogueira, representante da Central Única dos Trabalhadores no Codefat (Conselho Deliberativo de Amparo ao Trabalhador) e coordenador do encontro, estima que essas empresas faturem hoje US$ 8 milhões por mês, além de empregarem diretamente 10 mil pessoas.
Apesar de lembrar que a canalização de recursos a esses empreendimentos representa uma contribuição social "que se enquadrariam na campanha do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, contra o desemprego", Aparecido Faria defende que devem ser observados os critérios econômico-financeiros.
Entre empresas conhecidas que atualmente experimentam o processo de autogestão, algumas ainda em transição, estão a Makerli (setor calçadista, Franca, SP), Remington (máquinas para escritórios, Rio de Janeiro), Tecelagem Pahyba (São José dos Campos, SP) , Cerâmica Matarazzo (São Caetano, SP) e CBCA (mineração carbonífera, em SC).
Além de buscar uma identidade jurídica, as empresas autogeridas buscam também uma imagem diferenciada junto ao consumidor. A proposta é criar uma marca, recurso utilizado na Europa, que utilizada em campanhas sensibilize o consumidor a optar por produto de uma autogerida.
Segundo participantes, se a sociedade visse "com carinho" seus produtos e se algumas empresas e o próprio Estado priorizassem a compra desses produtos por um período de transição, viabilizariam esses empreendimentos.

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