São Paulo, sábado, 2 de abril de 1994
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Comércio luta para comprar barato

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

A briga entre os vários segmentos da economia para negociar prazos, preços e descontos nos tempos da Unidade Real de Valor (URV) fez com que o comércio buscasse alternativas para manter a sua rentabilidade.
Os supermercados, por exemplo, viram o atacado como uma saída para driblar a alta dos fornecedores. Já o varejo de confecção encontrou outro atalho para manter preços competitivos: comprar mercadorias para pronta entrega e importar.
A loja Marisa deu o primeiro passo. No início da semana anunciou que estaria comprando mercadorias para entrega imediata, com pagamento em cruzeiros reais ou em URV. Repetiu a tática usada após o Plano Collor.
Além disso, aumentou o time de compradores nos Estados Unidos e países do Oriente, onde é possível encontrar produtos mais baratos.
"Comprando no esquema de pronta entrega conseguimos um preço 40% mais barato do que sob encomenda", diz Márcio Goldfarb, presidente da empresa. Isso porque esse produtos não incorporaram os preços em URV da matéria-prima.
Em épocas normais, 90% das mercadorias vendidas em suas 104 lojas são feitas sob encomenda e apenas 10% são compradas em pronta entrega. Hoje a proporção mudou: 40% são sob encomenda e 60% pronta entrega.
O que desencadeou essa estratégia de compras, segundo ele, foi a subida dos preços das confecções. Elas, por sua vez, alegam que a alta se deve ao salto nas cotações das matérias-primas, sobretudo dos tecidos.
A indústria de tecidos se defende. Diz que a média de seus preços, em dólar, é do último quadrimestre de 93. Argumenta, ainda, que o tecido representa de 2% a 7% do custo na confecção.
Impasse
Para o consultor Clóvis Rolim Perez, da Macroinvest, que assessora confecções, o fato de as lojas estarem buscando a pronta entrega revela o impasse que as confecções enfrentam nas duas pontas. Na compra da matéria-prima, elas não conseguem baixar preços porque são poucas indústrias de tecidos que dominam o mercado.
Junto ao varejo, as negociações estão emperradas. Perez conta que, no mesmo dia, visitou três clientes para uma confecção que presta assessoria e não conseguiu fechar negócio. Motivo: nas compras para pagamento em 30 dias, as empresas ofereceram em URV um preço menor do que o à vista.
A estratégia da Marisa de comprar pronta entrega para para recompor os estoques, que giram hoje em 30 dias, já deu resultados. Sem revelar suas metas, Goldfarb conta que, em apenas um dia, atendeu 112 fornecedores e fechou 84 negócios, o equivalente a 647 mil peças.
Prazo
O que atrai os fornecedores para esse tipo de negócio é o pagamento em 20 dias. Os prazos da concorrência chegam até a 65 dias, diz Wilson Gandolfo, representante de vendas da malharia Soleil. "A dificuldade hoje é ter capital de giro", afirma.
Foi exatamente com esse objetivo que o representante de vendas, Ricardo Gonçalves da Silva, da Lausane Malhas, de Campos de Jordão (175 quilômetros a noroeste de São Paulo), procurou a Marisa para ofertar 1.500 blusas de lã na última quarta-feira.
A malharia mantém uma uma sobra de estoque para dar conta de um aumento de vendas.
"Como o prazo de pagemento nos interessa e o custo de manter produto é alto, resolvemos ofertar", diz Efraim Diniz Junior, dono da empresa.

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