São Paulo, sábado, 2 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lojas evitam fazer grandes estoques

MARCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto a loja Marisa, que só vende para pagamento à vista, busca alternativas para recompor os seus estoques de mercadorias e trabalha este mês com a perspectiva de crescimento real de 12% nas vendas em relação a março, seus concorrentes estão bem mais cautelosos.
Eles compram apenas o necessário para manter o estoque mínimo. Não estão buscando novos fornecedores na pronta entrega e nem recorrendo à importação de produtos.
O motivo de tanta cautela é a queda nas vendas, especialmente aquelas com pagamento em cartão de crédito. Elas recuaram depois que as administradoras dos cartões passaram a usar a Unidade Real de Valor (URV) nas suas operações.
"Nossas vendas com cartão crédito caíram 70% de fevereiro para março", diz Nazareth Danielian, diretor financeiro da rede Jean Daniel, com dez lojas na cidade de São Paulo. No total, o cartão de crédito representa 30% de seus negócios.
Geraldo Babuch, proprietário de uma rede com 33 lojas que levam seu nome, confirma a tendência de queda. Segundo ele, as vendas com cartão de crédito, que respondem pela metade do seu faturamento, baixaram 60% desde o último dia 15 de março.
Nas sete lojas da Modélia o comportamento das vendas é semelhante. André Hollander, diretor comercial da empresa, conta que a URV derrubou os negócios feitos com cartão. Antes da introdução do novo indexador, o cartão representava 40% do faturamento; hoje não passa de 5%.
Para Hollander, o consumidor diminuiu as compras com cartão porque desconhece quanto vai ter de pagar em cruzeiros reais no dia do vencimento da fatura.
Antes, diz o diretor da Modélia, apesar de existir o custo financeiro embutido no preço, o fato de saber o valor em cruzeiros dava mais segurança para o consumidor que usava o cartão de crédito.
Não é só o recuo nas vendas que está brecando a formação dos estoques. Com a alta das taxas de juros, a maioria dos empresários que não trabalha com mercadorias de giro rápido está evitando carregar grandes volumes.
Mas há quem acredite no aumento das vendas a curto prazo. O consultor Clóvis Rolim Perez, da Macroinvest, prevê que, se a economia ganhar a rota da estabilidade, a venda de produtos populares vai se aquecer.
O motivo, segundo ele, é que a população de baixa renda não vai conseguir avaliar o rendimento real da caderneta de poupança e acabará dando preferência ao consumo.(MCh)

Texto Anterior: Comércio luta para comprar barato
Próximo Texto: Fugir da URV deixa de ser bom negócio
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.