São Paulo, sábado, 2 de abril de 1994
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Seleção deve privilegiar a experiência, diz Jorginho

RICARDO SETYON
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE MUNIQUE

Em plena ribalta no Campeonato Alemão, considerado o mais eficiente jogador da equipe líder na classificação, o lateral-direito Jorginho faz de sua passagem pelo Bayern de Munique a sua principal preparação para a próxima Copa do Mundo, "tanto fisicamente como psicologicamente", como diz em entrevista à Folha, em Munique. Atleta de Cristo, Jorginho revela desejos de jogar no Japão.
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Folha - O sucesso na Alemanha e na seleção brasileira está mudando o Jorginho?
Jorginho - De jeito algum. Ainda sou o mesmo, que detesta jogar futebol de praia, ama o Rio de Janeiro e que, com muita fé em Deus, acredita numa vitória brasileira no próximo Mundial.
Folha - Você é um dos mais veteranos da seleção atual. Quais foram os seus piores momentos com o Brasil?
Jorginho - Entrei para a seleção em 1987, quando o futebol brasileiro estava em um dos seus piores momentos. Fiquei até depois da Copa de 90, quando o Falcão assumiu e declarou que não me convocaria. Foi um momento negativo que se somou àquela divisão do grupo que ocorreu na Copa da Itália. A vinda para a Alemanha também foi traumática, tanto que após três meses aqui eu queria fazer as malas e voltar para o Brasil.
Folha - E jogar na Itália ainda é um sonho?
Jorginho - Foi um grande sonho que quase se concretizou. Por muito pouco não assinei contrato com a Roma. Outro time italiano que quis me contratar foi a Juventus, que no fim ficou com o alemão Reuter. Hoje não quero mais saber da Itália. Quero, após o Mundial e o fim do meu contrato aqui, jogar alguns anos no Japão.
Folha - Então vai usar este Mundial como vitrine?
Jorginho - Sim, só que, ao contrário dos outros jogadores, não usarei essa vitrine para tentar ser comprado por alguma equipe espanhola ou italiana. Darei tudo de mim para colaborar para que o Brasil chegue ao título. Estou me preparando de todas as maneiras para esse Mundial, de um modo diferente de como me preparei para a Copa de 90. Aprendi muito com os erros, com a pressão da imprensa. Além do mais, não acredito que haverá uma nova divergência entre os jogadores, como aconteceu na Copa da Itália, onde perdemos a concentração por razões financeiras banais.
Folha - E neste grupo que forma a seleção hoje, qual o ponto mais forte?
Jorginho - Teremos a defesa mais experiente desta Copa. Comigo, com o Branco, o Ricardo Gomes, o Ricardo Rocha e o Mozer, teremos uma linha defensiva que, por causa de sua experiência e média de idade, deverá ser a espinha dorsal do time.
Folha - Qual é sua opinião sobre as críticas que têm sido feitas a Parreira como treinador?
Jorginho - Temos um grande técnico. Nunca houve tanta pressão para que Cafu jogasse como nas eliminatórias e Parreira calmamente optou por mim. A unanimidade em torno de Cafu era total. Nós dois tivemos as nossas chances e acredito que a imprensa acabou mudando um pouco de opinião quanto à lateral. O Parreira sabe o que quer. Quando decide algo, é difícil fazê-lo mudar de opinião. Parreira enfatiza o lado tático. Ele diz que quando tivermos a posse de bola podemos criar, jogar o chamado "futebol brasileiro" à vontade, mas quando o adversário tiver a bola, temos de ser europeus, aplicados taticamente.
Folha - E você está escrevendo um livro que fala sobre isso também...
Jorginho - O livro será editado aqui na Alemanha e sairá em breve. Ele se chamará "SteilPass" (passe para frente). Nele, conto as minhas experiências como jovem dos subúrbios cariocas e como jogador de seleção brasileira. Falo também da incrível pressão que a imprensa teve sobre o Parreira e a seleção. Mas o livro não deverá ser publicado no Brasil.

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