São Paulo, sábado, 2 de abril de 1994
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Marshall usa sons de torcidas em espetáculo

ANA FRANSCISCA PONZIO

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LYON

As torcidas brasileiras de futebol não estimulam somente jogadores em campo. Em uma de suas recentes criações, a coreógrafa norte-americana Susan Marshall usou a zoeira ouvida nos estádios brasileiros como parte da trilha sonora.
"Trata-se de uma coreografia que fala de competições em todos os aspectos, seja nos esportes ou nas relações ou nas relações cotidianas. Para compor a música, eu e meu grupo procuramos sons de torcedores de todo o mundo", ela diz sobre "Contenders", peça que possui longos trechos dançados ao som de exclamações como "Mengo" e "É Campeão".
Susan Marshall, 29, é considerada uma das revelações da nova dança americana. Ela pretende se apresentar no Brasil em 1995, mostrando a peça que vai lançar no fim deste ano no Next Wave Festival de Nova York. Até semana passada Susan Marshall esteve na França, onde realizou uma coreografia para o programa "An American Evening", que o Ballet da Ópera de Lyon estreou no último dia 22.
Estrangeiros
Coreografar para companhias estrangeiras tem sido uma solução para coreógrafos americanos como Susan Marshall, que no momento enfrentam uma situação financeira considerada péssima nos Estados Unidos.
"Por causa da recessão, estamos vivendo um período humilhante, de grande baixa econômica", ela comenta, reclamando de problemas como falta de patrocínios e estúdios alugados a preços muito altos. "No entanto, há muitas pessoas trabalhando em Nova York. Criativamente, a dança continua rica", afirma.
Minimalismo
Entre os jovens coreógrafos americanos, como Bill T. Jones, Stephen Petronio e Ralph Lemon, Susan é a que mantém ligações mais próximas com o minimalismo lançado nos anos 60 por artistas como Trisha Brown, Lucinda Childs e mesmo Bob Wilson. Contudo, Susan dilui a dança minimal no conteúdo emotivo que caracteriza a nova geração. "Hoje a emoção é um elemento mais tangível na dança moderna americana", avalia.
"Utilizo grande quantidade de movimentos naturais. Minhas coreografias são minimalistas em termos de estrutura. Faço uso de repetições e trabalho as sequências gestuais de uma forma altamente estruturada", ela acrescenta. Formada pela Juilliard School, Susan começou a coreografar em 1982. No ano seguinte, formou seu grupo. Além do Ballet da Ópera de Lyon, já trabalhou como convidada do Frankfurt Ballet e do grupo experimental do Ballet da Ópera de Paris.
Novo oxigênio
Para o Ballet da Ópera de Lyon Susan acaba de criar "Central Figure", com música de Phillip Glass. "É uma coreografia que fala de um bailarino de minha companhia, que morreu no último verão. Nos últimos anos, ele dançava os principais papéis, e seu estilo era como uma renovação de oxigênio para o elenco", diz a coreógrafa.
Habituada a trabalhar com dançarinos modernos, Susan acha que a troca de experiências com o elenco do Ballet da Ópera de Lyon trouxe elementos novos ao seu vocabulário. "Acho que o contato com esses bailarinos de sólida formação clássica pode ter inaugurado uma nova fase em meu processo de criação."

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