São Paulo, sábado, 2 de abril de 1994
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Morre Doisneau, retratista da ternura

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Morreu ontem num hospital de Paris o fotógrafo francês Robert Doisneau, aos 81 anos. Famoso por seus retratos do cotidiano de Paris, é o autor da foto "Beijo no Hôtel de Ville", publicada em 1950 pela revista "Life", motivo de um processo movido contra ele em 1992 (leia texto ao lado). A causa da morte não foi divulgada.
Doisneau nasceu em 1912 em Gentilly, um distrito no subúrbio de Paris. Formou-se gravador e litógrafo. Sua carreira de fotógrafo começou como autodidata em 1930. No ano seguinte, foi trabalhar com o fotógrafo André Vigneau, sua maior influência.
Em seguida Doisneau foi ser fotógrafo industrial da Renault, empresa automobilística onde ficou até 1939. Nos anos da Segunda Guerra (1939-1945), atuou como repórter fotográfico para várias publicações (Excelsior, Fortune, Paris Match e outras).
Membro da Resistência (associação de combate aos nazistas), era o falsificador oficial de documentos como o passaporte. Em fevereiro passado, a editora Hoebeke publicou uma coletânea de fotos feitas por ele na Paris ocupada pelos alemães, "Doisneau 40/44".
Atualmente, em Lyon (centro-leste da França), o Centro de Resistência e de Deportação expõe esses trabalhos, que mostram ruas vazias e mendigos.
Depois da guerra Doisneau foi trabalhar para a "Vogue" (1947-49), onde fez fotografia de moda. No mesmo ano em que começou na revista, participou de sua primeira exposição, uma coletiva na Biblioteca Nacional de Paris. Depois fez individuais em Nova York, Pequim, Roma, Londres e outras cidades.
Saindo da "Vogue", Doisneau foi ser fotógrafo "free-lancer" de revistas como "Le Point" e "Life". Alcançou fama internacional nesse período como um retratista dos subúrbios e suburbanos da capital francesa, voltado com um olhar de ternura para os acasos cotidianos.
Sem ser um grande viajante como seu contemporâneo Henri Cartier-Bresson, Doisneau fez viagens a Hollywood, em 1960, e à ex-URSS, em 1968, que resultaram em séries célebres.
Doisneau não se tornou famoso por fotografar personalidades artísticas, mas há exceções: uma de suas fotos mais conhecidas mostra o poeta Jacques Prévert em um bar de Paris, solitário, curvado diante de um copo de vinho.
Um exemplo de foto que traz o talento típico de Doisneau –sua apropriação bem-humorada de um acidente– é a de um casal suburbano olhando uma vitrine, "O Olhar Oblíquo", em que o homem observa disfarçadamente um retrato de mulher nua ao lado.
Em 1983 Doisneau recebeu o Grande Prêmio de Fotografia da França. Na cerimônia de premiação foi dito que as fotos de Doisneau "produzem um delicioso efeito de nostalgia".
Sobre fotografar nas ruas hoje em dia, Doisneau, nos últimos anos, respondia que se tornou impossível. "Paris perdeu a ternura. Não temos mais o direito de ser contemplativos", disse à Folha em abril de 1993.
No mês seguinte a essa entrevista, fotos de Doisneau foram expostas na Aliança Francesa do Brooklin, em São Paulo.

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