São Paulo, sábado, 2 de abril de 1994
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Talento foi coerente na técnica e no humor

JUAN ESTEVES
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO

Quando Henri Cartier-Bresson era obrigado a comentar sua célebre foto do menino carregando uma garrafa de vinho pelas ruas de Paris, disparava: "Doisneau tem outras melhores". Humildade à parte, quando Doisneau empunhava sua Rolleiflex, depois uma Leica, mostrava que Bresson tinha toda razão.
Seja quando fazia fotografias engajadas, como as do trabalho dos cientistas que usavam animais para experiências, seja quando fazia simplesmente a crônica das ruas de Paris, Doisneau não mudava sua concepção de composição e iluminação. A não ser quando utilizava um estúdio.
Leica furtiva
Mesmo que, nos últimos anos, quando vinha sendo processado pelos modelos da foto "Beijo no Hôtel de Ville", Doisneau reclamasse da impossibilidade de fotografar sem que as pessoas exigissem direitos autorais, era com sua Leica de visor que ele "furtivamente" fazia suas fotografias.
Depois Doisneau se renderia à modernidade e trocaria a Leica por uma Reflex (através da objetiva) –mas manteria a tradição do uso das objetivas Leitz, usadas pela Leica.
Talento múltiplo
Apesar das mudanças de técnica e objetivas –deixou muitas vezes a crônica da cidade pela fotografia editorial–, é muito difícil separar a maestria de ambas. O talento o seguiu o tempo todo através do humor –que usava ao fotografar as crianças francesas–, as cenas dos casamentos dos subúrbios parisienses, o pós-guerra ou simplesmente ao fazer algum retrato para revista "Femme".
Estigma
São várias as fotos que ficarão na memória, muito além de seu famoso "Beijo" –verdadeiro estigma dos últimos tempos, que ocultou a maior parte do trabalho de Doisneau.

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