São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Igreja cria programa de emprego para refugiados angolanos no Rio

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Um programa de geração de empregos é a principal tentativa da Caritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro para acalmar os ânimos de 1.400 refugiados angolanos que vivem na cidade.
Os refugiados, que chegaram a ocupar o prédio da Caritas em fevereiro, são encaminhados ao Banco da Providência, que já conseguiu emprego para cinco deles.
Segundo Heloísa Santos, coordenadora do programa de refugiados, o grande problema é que a maioria dos angolanos tem apenas nível primário ou médio. Dos cinco empregados pelo banco, dois estão trabalhando como marceneiros, dois como pintores de parede e um trabalha num estaleiro.
Para Santos, os angolanos precisam trabalhar para sobreviver. O auxílio dado a cada um deles pelo ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) é de CR$ 52 mil. Um casal ganha CR$ 116 mil, mais um auxílio de CR$ 20 mil por filho.
A Caritas quer fazer um convênio com a Ação Comunitária do Brasil (uma instituição empresarial com fins sociais) para treinamento profissionalizante.
Um convênio com os serviços sociais da indústria e do comércio (Sesi e Sesc) deve ser firmado ainda este semestre para a realização de testes de aptidão profissional.
Em fevereiro, os refugiados ocuparam a sede da Caritas pedindo um aumento da ajuda dada pela ONU. O diretor da Caritas, Cândido Pontes Neto, disse que a reivindicação foi discutida mas a orientação da ONU é que a ajuda seja equivalente a um salário mínimo do país de abrigo.
A cabeleireira Isabel André, 40, chegou ao Rio em setembro do ano passado. Seu marido, guerrilheiro da Unita (União Nacional para a Independência Total de Angola), havia morrido em combate.
Ela disse que até hoje não recebeu do Ministério das Relações Exteriores a documentação de refugiada. Ela não tem passaporte, carteira de trabalho e CPF. Só conseguiu uma declaração provisória que lhe permite morar no Brasil. "Tentei emprego como cabeleireira e como doméstica, mas sempre exigem documentos."
Com o dinheiro que recebe do ACNUR, ela mora numa pensão no centro do Rio com duas filhas e outras duas pessoas. O filho de 15 anos vive em outro local e só vê Isabel uma vez por dia.
Isabel foi a única refugiada que concordou em se identificar. Todos os outros reclamam que o dinheiro é insuficiente. Um enfermeiro disse que "a situação dos refugiados no Brasil é uma mentira. Dizem que os brasileiros vivem assim e então nós também temos que viver na miséria."

Texto Anterior: A omissão do Estado e a delinquência juvenil
Próximo Texto: Casos doentios são raros, afirma especialista em psicanálise infantil
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.