São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
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Pesquisa busca vacina contra colesterol

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Além de conhecidas pesquisas sobre Aids e malária, Carl Alving, do Instituto de Pesquisa do Exército Walter Reed, dedica-se a investigar meios de ministrar medicamentos. Neste campo interessa-o no momento a utilização de lipossomos como veículos de drogas. Lipossomos são bolinhas gordurosas às quais se agrega a substância a ser ministrada. Os lipossomos com que ele trabalha são complexos de colesterol e fosfolipídeos (gorduras fosforadas).
Na década de 70 Alving descobriu, no curso dessas pesquisas, que o organismo humano naturalmente produz anticorpos (substâncias específicas de defesa) contra colesterol, idéia que ele depois verificou já haver sido comunicada na década de 20 por cientistas alemães. A descoberta pareceu estranha a vários cientistas, alguns dos quais raciocinaram que os anticorpos deveriam destruir o organismo, de cujas membranas celulares o colesterol é parte integrante. Mas um fato permaneceu indiscutível: estudos com 800 pessoas revelaram que todas fabricavam anticorpos contra colesterol.
Alving observou que os lipossomos com alto teor de colesterol ativavam um dos elementos do sistema imunológico, o complemento, um complexo protéico que reage a substâncias estranhas (antígenos), como micróbios invasores. Ora, o complemento costuma ser ativado por complexos de antígeno e anticorpo, o que impõe a conclusão de que os lipossomos com o seu colesterol estimulam a produção de anticorpos. Alving procurou verificar essas idéias em camundongos que injetou com compostos de fosfolipídeos, colesterol e um adjuvante, substância que ajuda a deflagrar a reação imune. Os animais fabricaram anticorpos que reagiram ao colesterol. Essas experiências datam de 1977 e 11 anos após o pesquisador comunicou êxito no emprego desses animais para criar anticorpos monoclonais (de altíssima especificidade) contra o colesterol.
Para determinar a inocuidade dos lipossomos Alving realizou experiências em coelhos, que recebiam dietas com elevado teor de colesterol, cujo nível se elevava no soro e em cujas artérias apareceram placas típicas de ateromatose. Em coelhos semelhantemente tratados, que recebiam lipossomos de colesterol nada se observava, salvo tendência para diminuir o colesterol do soro.
A esses experimentos seguiram-se outros, mais bem organizados, no mesmo sentido. Alving concluiu que os anticorpos contra o colesterol poderão ser usados como "vacinas" contra o excesso daquela substância. Em vez de apelar para dietas e medicamentos para baixar o colesterol, ou mantê-lo no caso de ser normal, as pessoas receberiam apenas uma injeção anual de anticorpo. isso por enquanto não passa de um grande sonho e antes de aprovado o método teria de sofrer muitas provas. Uma delas consistiria em provar que os anticorpos produzidos buscam realmente como alvo específico o colesterol. Outra consistiria em explicar por que os anticorpos não destroem a estrutura orgânica.
A grande maioria dos especialistas é contrária aos resultados anunciados por Alving, que todavia insiste em afirmar que suas experiências e conclusões são corretas. Teremos ou não uma "vacina" contra o colesterol alto? O tempo dirá, se houver pertinácia de Alving e outros pesquisadores que lhe são favoráveis e ânimo desses investigadores para empreender novas experiências que respondem às dúvidas levantadas.

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