São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
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Cientistas fazem guia de uísque

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Cérebros de morcegos e uísque escocês têm algo em comum: pelo menos, as pesquisas de François-Joseph Lapointe e seu colega Pierre Legendre, da Universidade de Montreal, no Canadá.
Eles utilizaram ferramentas estatísticas –usadas em biologia para classificar os seres vivos de um ponto de vista evolutivo– para determinar as semelhanças e diferenças entre uísques escoceses de puro malte.
A pesquisa dos dois serve àquelas pessoas que gostaram de um determinado uísque e procuram outro com sabor parecido, ou pretendem ter no seu bar doméstico uma seleção pequena, mas variada, da bebida nacional escocesa, que comemora, em 1994, 500 anos de existência comprovada.
Apesar desse interesse "epicurista" –como os dois admitiram em um artigo científico publicado na revista especializada "Applied Statistics"–, a pesquisa tem também interesse científico como exemplo de técnicas de estatística aplicada na biologia.
"Um dos nossos objetivos foi tentar ajudar os fãs de 'scotch' a selecionar a bebida sem ter provar todas", disse Lapointe em uma entrevista por telefone à Folha de sua casa em Madison, Wisconsin, EUA. "Queríamos diminuir a diversidade de 109 uísques para um número menor de grupos."
Esses 109 uísques correspondem às principais destilarias escocesas e foram citados na obra que serviu de base à pesquisa dos canadenses, o guia "Michael Jackson's Malt Whisky Companion". O guia de Jackson (nada a ver com o cantor de mesmo nome) forneceu a classificações para os cientistas.
Lapointe e Legendre estudam as semelhanças entre cérebros de morcegos para criar essas árvores evolutivas. Eles desenvolveram métodos estatísticos para juntar os dados de modo a perceber as relações.
No caso dos uísques, os critérios foram os dados que Jackson produziu ao provar os 109 uísques –aroma, sabor, "corpo", cor e gosto residual.
Foram 68 características relativas a esses cinco critérios a serem agrupadas de modo a estabelecer o parentesco entre as bebidas. O resultado virou uma árvore genealógica do sabor dos uísques (veja ilustração).
O próximo passo da pesquisa pretende ser mais sofisticado –analisar bioquimicamente os 109 uísques. Lapointe está tentando entrar em contato com as destilarias, ou com colecionadores de "scotch", para conseguir as amostras. Rindo, ele disse à Folha que não teria como convencer os órgãos de fomento à investigação científica no Canadá de que ele precisaria de 109 garrafas de uísque "para pesquisa".

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