São Paulo, terça-feira, 5 de abril de 1994
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Protas mantém viva obra da coreógrafa

ANA FRANCISCA PONZIO
DA ENVIADA ESPECIAL

Ronald Protas foi um amigo fiel de Martha Graham. Ele não é exatamente um homem de teatro. Como fotógrafo, chegou a realizar trabalhos publicitários com Marlene Dietrich. Também estudou direito e foi nesta época, no começo dos anos 70, que aprofundou sua relação com Graham. Hospitalizada e em crise com o conselho diretor de sua companhia, Graham pediu ajuda a Protas, que largou a universidade para atendê-la.
Segundo Agnes de Mille, coreógrafa e biógrafa de Graham, Protas foi o único que apoiou Graham num momento de grande necessidade. Servindo tanto como enfermeiro quanto advogado e conselheiro, ele tornou-se indispensável. Além de nomeá-lo diretor de sua companhia, Graham escolheu Protas como único herdeiro de seus bens (estimados em 325 mil dólares).
Em entrevista concedida à Folha na Maison de la Danse de Lyon, um dos locais incluídos na turnê da Martha Graham Dance Company que comemora os 100 anos de sua fundadora, Protas falou sobre a preservação da obra que lhe foi confiada.
Folha – Martha Graham confiou o futuro de sua companhia a você. Qual a orientação que ela deixou?
Ronald Protas – Martha deixou comigo planos muito elaborados sobre os rumos da companhia, mencionando inclusive os coreógrafos que eu poderia escolher no futuro. Mas, acima de tudo, ela disse: "Lembre-se! A transformação deve permanecer constante. Caso contrário, caíremos na mediocridade". Ela me deu liberdade, não queria que seu repertório se transformasse num museu. Martha queria, assim como eu quero, manter viva a essência de seu trabalho.
Folha – Como será possível preservar a integridade das coreografias e da técnica que Martha Graham criou?
Protas – Felizmente, Martha deixou registradas em filmes mais de 500 horas de aulas, em que ela ensina cada um de seus balés. Ela também fez um filme sobre sua técnica, com explicações faladas por ela e executadas pelos bailarinos dela. Com tudo isso temos, no mínimo, uma imagem para copiar.
Folha – O treinamento na técnica Graham continuará sendo estimulado?
Protas – Como disse William Blake, "a execução é a carruagem dos gênios; as pinturas, ao contrário dos castelos, são corpos vivos". Estendo esse pensamento ao treinamento dos bailarinos que dançam ou dançarão na companhia de Graham. Temos uma escola em Nova York, frequentada por 500 estudantes originários de 47 países. Oferecemos aos nossos bailarinos uma formação que vai dos conhecimentos principiantes até o estágio profissional. Esperamos que, além da técnica, possamos transmitir o espírito da dança segundo Martha.
Folha – Por que você escolheu Twyla Tharp para coreografar para o grupo de Graham?
Protas – Twyla é uma dos nomes que Martha me sugeriu. Martha achava que, depois da morte de Balanchine, havia nos Estados Unidos dois grandes coreógrafos vivos: Jerome Robbins e Twyla Tharp. Pretendo convidar Twyla novamente, em 1996, quando Martha Graham Dance Company completará 70 anos. Em 1995 a companhia trabalhará com Bob Wilson. Outro convidado será o canadense James Kudelka.
Folha – No futuro, os espetáculos de Martha Graham Dance Company serão uma mistura de diferentes autores?
Protas – A proposta é acrescentar apenas uma peça de autor diferente a cada programa. As coreografias de Martha serão maioria. Para manter o frescor da companhia, vamos produzir um novo balé por ano.

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