São Paulo, terça-feira, 5 de abril de 1994
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O novo ministro

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – O homem que assume hoje o Ministério da Fazenda, o embaixador Rubens Ricupero, é um desses quadros que desmente a suposição, hoje virtualmente generalizada, de que o serviço público é habitado por um bando de energúmenos sem a menor disposição para o trabalho.
Ricupero é uma dessas pessoas com as quais vale a pena trocar idéias porque, em geral, o interlocutor sai ganhando, seja pela forma suave com que conduz qualquer tipo de conversação, seja pelo conteúdo. Sua gestão pode até resultar em um redondo fracasso, dadas as dificílimas circunstâncias em que assume, mas é inegável que se trata de uma figura que tem lugar em qualquer gabinete de alto nível que se pretenda montar no país.
Feitas essas observações, convém apontar as duas dúvidas cruciais que assaltam a mente de quem olha o governo de fora para dentro. A primeira é: até que ponto Ricupero tentará impor ao menos algumas cores próprias ao plano econômico ou será um mero zelador de uma proposta elaborada por uma equipe com a qual pode até coincidir, mas que não é a dele?
Do ponto de vista retórico, Ricupero já introduziu uma novidade, ao enfatizar, na semana passada, a sua preocupação com a questão social. Não que expressar inquietação com ela resolva alguma coisa. Mas é sempre melhor do que nem sequer tocar no assunto, como ocorreu, na maior parte do tempo, com o seu antecessor imediato, que passava a sensação de até orgulhar-se de não ter feito um plano de distribuição de renda, mas apenas um programa de estabilização.
A segunda questão crucial –e a que mais inquieta o pessoal do PSDB, assanhado como nunca com a perspectiva do poder– é esta: Ricupero terá disposição para eventualmente dizer não ao presidente Itamar Franco, se este, em algum momento, decidir adotar medidas que contrariem a essência do Plano FHC?
Só o tempo, como é óbvio, trará respostas. De qualquer forma, parece evidente, antes mesmo da posse, que as atenções que se concentram em torno de um ministro da Fazenda, no Brasil, quase que o obrigam a ganhar luz própria.

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