São Paulo, quarta-feira, 6 de abril de 1994
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Batman retorna em gibi e desenho animado

ROGÉRIO DE CAMPOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Mais uma vez o Batman vai tentar conquistar os leitores brasileiros. A Abril Jovem colocou nas bancas sua quarta tentativa de um gibi próprio do herói de Gotham City.
"Batman - O Desenho da TV", como o nome já explica, vem na onda do desenho animado apresentado desde o último dia 6 de março pelo SBT, às 11h dos domingos.
A última tentativa de um gibi mensal do Batman no Brasil fracassou em julho de 92, depois de 29 números.
Antes, a Abril Jovem já havia tentado em 1983, quando o gibi durou dez números. E em 87, quando o Batman resistiu por 16 edições.
Como no Brasil o Batman pode fazer sucesso nas telas de cinema, na TV e em merchandising e ser um fracasso nos quadrinhos?
"É inexplicável", diz Mario Luiz C. Barroso, 24, um dos editores do novo gibi e responsável pelas publicações das HQs da editora norte-americana DC Comics pela Abril Jovem.
"Todo mundo gosta do Batman, todo mundo fala do Batman e o gibi não vende. Não consigo nem chutar uma avaliação", lamenta.
"Antes, falavam que era por causa do formatinho (as duas primeiras tentativas de gibi do personagem foram no formato 19 cm por 13 cm, habituais para os gibis brasileiros de super-heróis) e que os leitores queiram o gibi no formato original americano (25 cm por 17 cm), então lançamos o gibi assim. Foi outro fracasso. Começou vendendo bem, por causa do filme, e depois foi caindo."
"Recebemos muitas cartas de leitores reclamando um gibi só do Batman, mas as vendas deixam muito a desejar", conta Barroso.
"Vamos ver se agora o desenho animado no SBT ajuda", é a esperança do editor.
"O poder da televisão é muito grande. O desenho animado dos X-Men no programa TV Colosso, da Globo, fez a venda do gibi subir consideravelmente. A revista dos X-Men chegou a empatar com a venda dos gibis do Aranha, nosso maior sucesso."
O problema é que ao contrário da Globo, que fez muita propaganda quando lançou o X-Men, o SBT colocou seu Batman na programação de maneira discreta.
"Nem sei em que dia está passando", Barroso. "Não teve realmente muita publicidade", admite Flávio Carlos Pagliuca, do departamento de divulgação do SBT.
Os boatos são de que Silvio Santos teria vacilado em colocar o desenho animado no ar, por considerá-lo muito violento para o público infantil. Por isso o Batman teria ficado "escondido" na manhã de domingo.
"Só boatos, não aconteceu nada disso", diz Pagliuca, "pelo menos eu não sei de nada disso".
A série exibida no SBT tem sido aclamada nos EUA como o melhor desenho animado de aventura que se faz desde o clássico "Johnny Quest".
E a fama é merecida: há muito tempo não se via na TV um desenho de aventura tão sofisticado. A tal ponto que rendeu até uma versão para cinema, o longa-metragem "Batman: Mask of The Phantasm", lançado nos cinemas norte-americanos em dezembro passado. Este longa deverá ser lançado no Brasil só em vídeo, pela Warner Home Video.
O visual é calcado na versão da série para cinema. O diretor Tim Burton serviu inclusive como conselheiro para os produtores do desenho animado e fez os rascunhos para personagens como a Mulher-Gato e o Pinguim.
As vozes dos personagens, na versão norte-americana, são feitas por astros como Mark Hamill (Coringa), Michael York (Conde Vertigo) e Roddy McDowall (Chapeleiro Louco).
A animação se inspira nos clássicos desenhos animados do Super-Homem, produzidos pelos irmãos Dave e Max Fleischer para a Paramount nos anos 40.
Nada a ver com aqueles medíocres desenhos dos Superamigos (também estrelado pelo Batman) que a CNT exibe de segunda a sexta-feira às 18h30.
Os roteiros lembram o Batman do início dos anos 70, quando a DC Comics resolveu recolocar o personagem naquele mundo das trevas de que ele havia sido tirado pela série de TV dos anos 60.
E isto não é um acaso: um dos roteiristas do novo desenho é o próprio Dennis O'Neil, responsável pelas HQs dos anos 70 que relançaram o personagem e criador, entre outras coisas, do tenebroso Asilo Arkhan (algumas dessas HQs foram relançadas recentemente pela editora Nova Sampa, na série "Invictus").
A Gotham City do desenho animado é um lugar um tanto surreal, cheio de personagens mais surreais ainda. Nada daquele humor alucinado que tinha a série de TV.
Mas nada também do tedioso tom "adulto" que tem as HQs atuais do personagem.
O gibi é uma daquelas picaretagens legais. Um objeto de merchandising, como os bonecos que a Estrela está importando dos EUA.
Mas, qual o problema? O resultado é ótimo, tanto nos brinquedos quanto no gibi.
Este é provavelmente o melhor que o Batman ganha desde que Frank Miller teve a infeliz idéia de colocar "realismo" nos quadrinhos de super-heróis.

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