São Paulo, quarta-feira, 6 de abril de 1994
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'Go Fish' mostra face oculta do lesbianismo

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

"Go Fish" é um exemplo do fenômeno "crossover" (tradução literal, "passagem"), quando algo feito com determinado objetivo e para determinado público acaba atingindo outros.
A diretora, roteirista e produtora Rose Troche concebeu o filme com a co-produtora e co-roteirista Guinevere Turner pensando exclusivamente no público homossexual feminino.
Mas "Go Fish" foi muito mais além. É um filme alto-astral (raro no gênero), divertido, que vai ser exibido comercialmente nos EUA, na Europa e, pasmem, no Brasil.
O enredo gira em torno de cinco lésbicas morando em dois apartamentos do bairro homossexual de Chicago (norte dos EUA).
Duas formam um par e as outras três estão "pescando" parceiras –o "Go Fish" do título.
Há festas e reuniões, bares, passeios, jantares, tudo restrito às lésbicas. Mas as situações são as mesmas vividas por pessoas de preferências sexuais diversas.
O momento mais engraçado do filme é quando uma das meninas transa com um homem e é levada por isso a um tipo de tribunal inquisitório onde todos os clichês da militância homossexual fanática são diluídos em humor e desprendimento.
Ao excluir do filme o lado barra pesada da vida homossexual ("todo mundo já sabe isso", diz Troche), as roteiristas tiraram aquele confronto comum em obras gays do "nós contra a sociedade opressora", que quase sempre agride e afasta a "sociedade opressora".
Filmado em preto-e-branco, "Go Fish" não sofre com o baixo orçamento, cujo valor a diretora Troche guarda segredo, mas estimou para a Folha em menos de US$ 100 mil (ainda não pagou a equipe e atores e está endividada).
Troche e Turner abandonaram o projeto inicial de não ter homens na equipe do filme e nem "dinheiro de homem" na produção.
Um radicalismo homofóbico que tiveram de abandonar na prática e que não se revela no filme.
O filme estréia comercialmente nos EUA em junho e em Londres em julho.
No Brasil, passa na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em outubro e depois entra em cartaz distribuído pela Look Filmes. Vale a pena esperar para ver.

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