São Paulo, quarta-feira, 6 de abril de 1994
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Visão da diretora enfatiza o otimismo

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

Adepta do "body piercing", tem dois brincos na sobrancelha direita e um no nariz, Rose Troche, 29, está animada, surpresa e ansiosa com as expectativas criadas por "Go Fish".
Ela estudou cinema, vídeo e fotografia na Universidade de Illinois em Chicago, de onde se mudou para Nova York há oito meses, e já trabalha em seu próximo roteiro, sobre uma mulher romântica em busca de amor, não importa de que sexo venha.
Em Londres para o festival de Cinema Gay e Lésbica, onde "Go Fish" fez sucesso na abertura, ela falou à Folha sobre o filme.
*
Folha - Você fez "Go Fish" pensando apenas num público de mulheres homossexuais?
Rose Troche - Hum, na verdade, sim. Nós não pensávamos que "Go Fish" fosse ser distribuído de uma maneira tão ampla. Ficamos surpresas.
Sabíamos que correria os festivais de filmes homossexuais. Era um filme específico para lésbicas. Mas acabou sendo um tipo de obra que expandiu sua abrangência.
Folha - Por que a regra inicial (não cumprida) de não ter homens na equipe, nem dinheiro de homens no filme? Algum preconceito?
Troche - Não, não é preconceito. Nós apenas tentamos ser superconscientes politicamente a respeito do que outras lésbicas pensariam se elas soubessem que tivemos um punhado de homens trabalhando para nós.
Acho que você acaba se impondo este tipo de ação politicamente correta e de alguma maneira nós pensamos em realizar um filme feito somente por mulheres, sem ser influenciado de forma alguma por homens. E isso aconteceu.
Folha - Mas vocês não mantiveram a regra, não é?
Troche - Não. Porque é uma regra ridícula. Fisicamente, os homens são capazes de carregar coisas muito mais pesadas do que nós.
Apesar de eu ter carregado muitas escadas e equipamentos pesadíssimos. Eu adoro os homens que trabalharam no filme.
Folha-"Go Fish" é bem diferente do modelo comum de filme sobre homossexuais. Todo mundo está muito feliz, de bem com a vida. É assim em Chicago?
Troche - (Risos) Às vezes. É uma comunidade bem animada. Às vezes é deprimente e horrível, como tudo.
Folha - Por que as coisas horríveis ficaram de fora?
Troche - Porque nós quisemos fazer um filme em que as pessoas se sintam bem. Um filme em que as pessoas vão ao cinema e depois se sintam bem, se virem para a amante e digam "eu te amo".
Já há muitos filmes para ver se você quer se sentir deprimida. Todos os outros filmes de lésbicas foram tão deprimentes.
Folha - O que você acha dos papéis das mulheres em Hollywood?
Troche -Na maioria das vezes são lixo. A maioria das mulheres, não só as lésbicas, quando vão ao cinema se identificam mais com os homens. Eles são muito mais fortes e complexos, enquanto as mulheres são como bonecas unidimensionais.
Folha - Você alguma vez pensou que seu filme seria exibido no Brasil?
Troche -Eu fiquei tão feliz! É importante para mim. Quase todo mundo ignora o que está abaixo dos EUA.
Folha - Você sabe alguma coisa do Brasil?
Troche - Eu não sei muito, mas espero ir para lá e ficar meses (risos).

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