São Paulo, sexta-feira, 8 de abril de 1994
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Coronel confirma pressões para assinar contrato

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O coronel da PM (Polícia Militar) Fernando Balestrero disse ontem na Justiça Federal que recebeu pressões "insistentes" para assinar o contrato de importação de equipamentos de Israel durante o governo Orestes Quércia (87 a 91).
Balestrero depôs no processo que apura acusação de corrupção ativa e fraude processual contra Arie Halpern, dono da Trace Trading Company, empresa que intermediou a importação.
Na época da negociação entre o governo do Estado e a Trace, o coronel chefiava o Centro de Suprimento e Manutenção de Telecomunicações da PM.
Balestrero decidiu não assinar o contrato por julgá-lo irregular. Três dias depois de informar a decisão a seu superior, ele foi afastado do cargo e substituído pelo coronel Eduardo Correa Cavalcante, que assinou o documento.
As importações tinham valor global de US$ 310 milhões e foram feitas sem licitação.
Parte dos equipamentos era destinada ao serviço de telecomunicação da PM. O restante, para a Polícia Civil e universidades.
As pressões, segundo o coronel, foram exercidas tanto por representantes da Trace como por integrantes do governo estadual.
Vantagem ilícita
O coronel declarou que o dono da Trace insinuou o oferecimento de vantagem ilícita (suborno) para conseguir a assinatura do contrato.
Balestrero afirmou que, no dia 24 de outubro de 89, ouviu de Halpern a seguinte frase: "se você não assinar, um outro assinará. Quer perder uma viagem para os Estados Unidos ou para Israel?".
Quando foi interrogado pelos advogados de defesa, Balestrero admitiu que a frase era "dúbia". E acrescentou que, exatamente por isso, não tomou qualquer medida legal contra o dono da Trace.
Segundo os advogados, a minuta de contrato previa a viagem dos signatários para Israel, com as despesas pagas pela empresa.
Balestrero afirmou que sofreu represálias após ser afastado do serviço de telecomunicações.
Quatro dias depois de o Ministério Público iniciar o processo contra Halpern, Balestrero disse ter sido transferido para Presidente Prudente (SP), no oeste do Estado.

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