São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 1994
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Rap de Gabriel conquista Recife

HÉLIO GOMES
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

O início do segundo festival Abril Pro Rock, na noite de sexta-feira em Recife, serviu para deixar clara a variedade de estilos de três bandas locais –Weapon, Jorge Cabeleira e Paulo Francis Vai Para o Céu– e abrir as portas da cidade para o rapper Gabriel O Pensador.
O público que foi a Circo Maluco Beleza abrangia as mais diferentes tribos. Lá estavam os "mangueboys e manguegirls" cantados por Chico Science, ao lado de legítimos rappers e rastafaris. Ao mesmo tempo, circulavam pelo show adolescentes vestindo camisetas de bandas de heavy metal.
Quem esperava ver a supremacia do mangue beat na segunda edição do festival pernambucano foi logo pego de surpresa pelo hard rock do quinteto Weapon.
Com a maioria das canções em inglês, o grupo formado em 92 fez sua segunda participação no festival. O Weapon fez um show correto, conseguindo até tocar uma cover de "Jump", do Van Halen. Logo depois, foi a vez de Jorge Cabeleira, de o Dia em que Seremos Todos Inúteis, agradar com sua música.
O grupo nasceu em 93, depois da dissolução da banda os Mordomos. A partir daí, Jorge Cabeleira consolidou o seu nome no circuito de Recife e acabou chegando até o Rio e São Paulo, onde tocou há cerca de um mês.
O resultado da soma de duas guitarras, baixo, bateria e triângulo funciona muito bem ao vivo. O mangue beat aparece de forma inevitável, apesar de a banda relutar em aceitar o rock.
As letras do grupo tratam de temas regionalistas, como revelam os títulos de algumas canções: "Canudos", "'Recife" e "Psico Baião". A influência de grupos da virada dos 60 para os 70 –The Doors, Led Zeppelin, por exemplo– aparece na medida certa.
O show pôs fogo no público que começava a encher o Circo Maluco Beleza. O espaço escolhido para o festival funcionou bem, numa noite em não houve nenhuma falha grave de organização. O som era nítido em todos os pontos do circo.
A terceira banda da noite era Paulo Francis Vai pro Céu. A sátira sonora feita pela banda aumentou mais ainda o ânimo do público.
Além de suas hilárias canções, como "English Course Lesson One", o quinteto –considerado "veterano" pelo público local– abriu espaço para duas covers: "Please Don't Go" (KC and The Sunshine Band) e "Macho Man" (Village People). O terreno estava pronto para a atração mais esperada da noite.
O rapper carioca Gabriel O Pensador fez sua estréia em Recife diante de um público composto por seus fãs. A empatia foi instantânea e durou até o final do show.
Gabriel fez o que tinha que fazer: um show repleto de hits, que saciaram a sede de todos os que foram vê-lo. Um cartaz do Movimento Hip Hop do Recife –que dizia "Não deixe o rap virar pop"– deixou o carioca visivelmente satisfeito.
Na saída, Gabriel O Pensador teve sua noite de Xuxa. O carioca era esperado ansiosamente por mais de uma dezena de crianças. O rapper teve que recorrer a seus seguranças para se ver livre do assédio infantil.

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