São Paulo, terça-feira, 12 de abril de 1994
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À sombra do perfume

ZECA CAMARGO

Paris já enlouqueceu por causa de Cesaria Evora. A Bahia já a conhece através de raras importações. Quem não a viu no ano passado em São Paulo pode ter a chance de ouvi-la numa certa FM que tem longos horários dedicados à música brasileira –apesar de ela ser de Cabo Verde.
Fora que ela deve voltar a se apresentar no Brasil ainda este semestre. Apesar de toda essa introdução cuidadosa, é bom você se preparar ainda mais para conhecer Cesaria Evora.
Poucos são os que conhecem seu trabalho antigo (a raridade importada "Mar Azul", por exemplo, é de chorar). "Miss Perfumado", seu último trabalho, é de 92 e já está conseguindo entrar no seu segundo ano de veneração. Nele mistura um fado que não é fado, um sambinha que não é sambinha e uns toques de "mambo-mole".
O interessante é tentar entender o entusiasmo de quem ouve faixas como "Sodade" e "Angola".
A primeira é de um banzo (de São Nicolau), resultado da combinação entre a voz de Cesaria e uma viola arrastada. E "Angola" é quase dançante, uma espécie de calipso.
E tem mais espaço para a alegria, como em "Cumpade Ciznone". E sobra espaço para a melancolia ("Luz duma Estrela", "Recordai"). Nesse ziguezague de climas, Cesaria Evora reina, cantando num dialeto parecido com o português, que é melhor nem tentar entender –deixe seu ouvido apenas escutar.

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