São Paulo, sábado, 16 de abril de 1994
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Leme já foi reduto da boêmia carioca

Itamar pretende morar no bairro

SÉRGIO AUGUSTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Antebraço de Copacabana, com apenas 1km de extensão, o Leme é um bairro com meia dúzia de ruas (se tanto), cujos limites se estendem da praça Almirante Júlio de Noronha à avenida Princesa Isabel. Até por sua modesta dimensão, não possui em seu passado a quantidade de glórias da "Princesinha do Mar". Mas algumas o Leme contabilizou, nos anos 40 e 50, quando ali se estabeleceu aquele que talvez tenha sido o seu morador mais ilustre, o compositor e radialista Ary Barroso, que ao morrer virou nome de ladeira no bairro.
Seria injusto não lembrar também a figura do "playboy" Mariozinho de Oliveira, líder do Grupo dos Cafajestes, em cujo apartamento um bando de jovens cheios de "joie de vivre" promovia bacanais homéricas. Ary era "habitué". Assim como Dorival Caymmi, que uma vez lá foi pego em flagrante delito pela mulher. Não bastasse, estava fantasiado de padre.
No tempo do Ary, boa parte da boêmia carioca circulava por boates que hoje não existem mais, como o Sacha's, Vogue (destruída por um lendário incêndio), Drink's, Fred's (onde o autor de "Aquarela do Brasil" fez vários shows), Arpège (reduto de Waldir Calmon e seu solofox), Mocambo, Havaí, Texas.
Daquele tempo, restou apenas o restaurante La Fiorentina, na avenida Atlântica, reduto de alguns artistas e notívagos da velha guarda. Mas se o presidente Itamar quiser trocar o pão de queijo por algo mais sofisticado, as melhores opções, em ordem crescente de qualidade, são o Shirley, o Da Bambrini e o Saint-Honoré (no hotel Meridien).
À margem do folclore carioca desde os alvores da bossa nova, o Leme atravessou a decada de 70 como um bairro eminentemente residencial. Sua mais ilustre personalidade era, então, a escritora Clarice Lispector. Hoje, é a dublê de socialite e colunista Danuza Leão.
Inesperada atração do ultimo verão, quando se valeu de ser a única praia carioca com água limpa, o Leme deixou de ser o reduto tranquilo de cinco, dez anos atrás. Encheu-se de mendigos, por causa dos turistas do Meridien, e de pivetes, pelos mesmos motivos. Itamar que se cuide.

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