São Paulo, sábado, 16 de abril de 1994
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Entenda quais são os efeitos do acordo

FERNANDO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

A assinatura do acordo da dívida externa tem um efeito principal para o país: o Brasil sai da lista de inadimplentes do sistema financeiro internacional.
Para usar uma imagem do dia-a-dia, o país sai da lista negra dos bancos. É como se o Brasil estivesse limpando o seu nome do SPC (Sistema de Proteção ao Crédito). E, com o nome limpo, fica mais fácil atrair dinheiro.
Ao fazer o acordo, o governo brasileiro tenta deixar claro que não deseja mais ser caloteiro. O Brasil vinha calotando sua dívida externa sistematicamente desde 1983. Houve períodos curtos de normalidade de pagamentos.
Como a fama do país ficou muito ruim durante esses quase 12 anos de crise na dívida externa, não haverá efeito prático imediato após a assinatura do acordo. Isso ocorre porque houve acordos no passado que foram descumpridos.
É provável que os os investidores esperem um pouco para terem certeza que o país mudou, de fato, sua postura. Será um período de carência no qual o país pode –ou não– reconquistar sua credibilidade no exterior.
Na vida do cidadão comum, o efeito só vai existir no dia que o país tiver recomposto sua imagem externa. Quando isso acontecer, vai entrar dinheiro estrangeiro na economia. Por enquanto, não fará a menor diferença para os brasileiros a assinatura do acordo da dívida.
Dentro de uma lógica de mercado, capitalista, é o dinheiro estrangeiro que vai gerar mais negócios no país. Assim haveria, consequentemente, mais empregos. E mais renda. E mais conforto para os brasileiros.
Mas só o acordo da dívida também é muito pouco para reconquistar a confiança dos investidores estrangeiros. A incerteza sobre quem será e como governará o próximo presidente também afugenta o dinheiro internacional.
É impossível fazer uma previsão científica sobre quando exatamente o Brasil se beneficiará do acordo da dívida. A imagem brasileira está combalida. Um exemplo é como a principal revista semanal de economia da Europa, a inglesa "The Economist", descreveu o país recentemente: "O Brasil é o país do futuro. E sempre será."
Se o caminho brasileiro for mesmo o capitalista, de livre mercado, as condições para recuperar a imagem são simples e conhecidas: os contratos da dívida terão que ser honrados de fato daqui para a frente; a economia tem que se estabilizar, com a inflação chegando perto do zero e o próximo presidente terá que reafirmar o cumprimento dos contratos assinados pelo atual.(Fernando Rodrigues)

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