São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 1994
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Plano Cavallo derruba inflação para 5% ao ano

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O programa de estabilização argentino, principal fonte de inspiração do Plano FHC, está completando três anos neste mes. E vai bastante bem. A inflação foi de 7,7% no ano passado e a previsão para 1994 fica abaixo dos 5%.
Além da estabilidade dos preços, há outros indicadores positivos: a economia cresce, incluindo a produção industrial, e as reservas internacionais quadruplicaram nos últimos três anos.
Mas há também indicadores negativos. O desemprego se manteve constante nos dois primeiros anos do plano e aumentou em 1993. O peso está sobrevalorizado em relação ao dólar, o que faz da Argentina um dos países mais caros do mundo. E que continua importando muito mais do que exporta.
Quanto aos salários, não houve perdas nem ganhos com a estabilização. Ocorre que no período inflacionário de 1989 a 1991 o salário real médio caiu quase 25%, de modo que parar de perder não é o suficiente. Mas a recuperação desejável ainda parece demorar.
Estas dificuldades indicam que o Plano Cavallo (nome do ministro da Fazenda argentino que o implantou, Domingo Cavallo) não está concluído. Ou seja, três anos é pouco para um programa de estabilização –e essa é uma importante lição para o Brasil, que está nos primeiros semanas de um plano parecido.
Nos primeiros nove meses do plano, abril/dezembro de 1991, a inflação foi de 21%, ainda elevada para padrões civilizados, mas já um êxito. Esse ano terminou com 84% por causa dos 52% dos três primeiros meses.
Mas já em 1992 a inflação caiu para 17,7% e, no ano passado, para 7,7%, indicando que o plano vem numa escalada positiva.
A estabilidade causou um imediato retorno do crescimento econômico, antes mesmo de ocorrerem ganhos no poder aquisitivo dos assalariados. Sem inflação, volta o crédito ao consumidor e as pessoas sentem-se mais confiantes para fazer dívida. A relação entre a prestação e o salário permanece constante, possibilitando o planejamento do consumo.
A indústria, que trabalhava com apenas 50% de sua capacidade, aumentou rapidamente seus níveis de produção. Segundo dados de um estudo especial da consultoria Macrométrica, a produção de bens de consumo duráveis subiu 143% nos dois primeiros anos do plano.
Como foi um crescimento pelo uso de capacidade ociosa, não houve correspondente aumento de investimento e do número de empregos. E está aí o maior desafio: reorganizar e reanimar a indústria local.
Tarifas de importação muito baixas ajudaram a segurar preços, mas também criaram enorme problema para a indústria interna. O desafio é conciliar a abertura econômica com apoio à produção (e, pois, ao emprego) local.
A reestruturação da indústria é também essencial para a Argentina resolver seu problema de comércio externo. Até aqui os déficits comerciais têm sido largamente cobertos pela entrada de investimento estrangeiro e pelo repatriamento de dólares de argentinos. Como isso tem um limite, o deficit comercial precisará ser corrigido, e pela via do aumento das exportações.
A recuperação da indústria local, exposta à concorrência externa, é assim o passo decisivo para a consolidação do Plano Cavallo.

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