São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 1994
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Pensar em morte é normal na adolescência

DA REPORTAGEM LOCAL

"A idéia do suicídio passar pela cabeça de alguém na adolescência é uma coisa normal". As palavras são do psicanalista Tenório Lima.
Segundo ele, o fato de um adolescente falar que pensa em se matar não significa que ele fará isso um dia.
O roqueiro que só quis se identificar como Carluxo, 22, é um desses. "Quando eu tinha uns 19 anos vivia falando de suicídio. Eu me sentia em um labirinto. Queria morrer. Mas percebia que não valia a pena".
Segundo ele conta, a mania de brincar com a morte era normal entre seus amigos. "A gente curtia bandas que cantavam músicas com letras depressivas."
Esse comportamento, segundo Tenório Lima, é comum em certos grupos durante a adolescência. "Alguns teens romantizam a tristeza e a melancolia e fazem disso uma postura estética".
Ele explica que isso pode atenuar a depressão. "Quando a angústia é compartilhada com os amigos, as coisas ficam mais fáceis e até divertidas."
Lima lembra ainda que os mais criativos podem transformar sua tristeza em arte, como poesia e letras de música. "É o que fazem darks e punks".
Outro ponto ressaltado pelo psicanalista é que, quando a idéia de suicídio é exposta claramente, ou seja, quando é discutida, é mais difícil que ela se concretize.
"Qualquer coisa que passa pela linguagem é atenuada. Se alguém diz que tem medo de um dia vir a se matar, provavelmente não vai fazer isso."

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