São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 1994
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Damas de ferro

MARIA LUISA CAVALCANTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Hoje é cada vez maior o número de mulheres praticando esportes que até pouco tempo eram dominados por homens. E não estão fazendo feio, não.
Viviane Corbett, 15, é um desses casos. Ela deixa muito cara babando cada vez que dispara sua pistola e arrebata mais um título no tiro prático.
Colecionadora de troféus, Viviane já toma como brincadeira os comentários dos amigos: "As pessoas sempre ligam o tiro à violência. Eu não. Pelo menos, se um dia eu tiver que pegar em uma arma, eu vou saber o que fazer com ela".
Outra que não está para brincadeiras é a esgrimista Tatiana Florestano, 17, bicampeã paulista e vice-campeã brasileira na categoria espada.
"A esgrima tem um pouco de garra e até de agressão. Mas as regras impedem a violência", explica. Ela conta que não sofre tanto preconceito por praticar esse esporte. "Não é tão bruto porque é fino, de figuras bonitas".
A mesma classe não faz parte da estratégia das lutadoras de tae kwon-do. Sem perder o jeito feminino de se vestir, de andar e de falar, elas não pensam duas vezes ao se sentirem ameaçadas: partem para a porrada mesmo.
"Uma vez um cara veio para cima do meu pai. Eu dei um soco que ele foi para o chão e os óculos dele pararam do outro lado", conta Flávia Carvalho, 18, que apesar de ser loira não tem nada de frágil.
Para pacifistas e covardes que devem se perguntar se o ataque físico é a única reação possível, Flávia e sua colegas de treino respondem: "Essa resposta é automática. É um instinto que a gente aprende com a prática da luta".
A estudante Fabiana Vasconcelos Barbosa, 18, que faz capoeira, desaprova o uso desse esporte como forma de ataque. "Você tem que jogar atento e consciente de que não vai machucar ninguém".
Na opinião de especialistas, no entanto, as artes marciais e outros esportes de combate não incitam a violência.
"Pelo contrário, eles ajudam a dar vazão à agressividade humana, que é natural. Isso acontece em qualquer atividade competitiva", explica o psiquiatra e psicanalista Mauro Mercadante, 48.

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