São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 1994
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'Atos' relata cada passo da carreira

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em sua autobiografia, escrita com a colaboração da crítica de teatro Mariângela Alves de Lima, Marilena Ansaldi não faz apenas um inventário pessoal, que serve de catarse a um processo psicanalítico que nunca ocorreu em consultórios terapêuticos.
As reminiscências de Marilena, 59, mostram a trajetória da dança em São Paulo e contam histórias da vida cultural da cidade.
Por causa da proibição do pai, o cantor lírico Paulo Ansaldi, ela começou a estudar balé somente aos 14 anos.
As primeiras aulas foram na Escola de Bailado do Teatro Municipal, na época um ponto de referência da dança clássica.
Ainda estudante, Marilena assistiu a primeira apresentação de Antonio Gades no Brasil, quando ele ainda se mantinha fiel aos princípios mais tradicionais da dança espanhola.
Maria Callas, Mario del Monaco e a coreógrafo americana Katherine Dunhan também faziam temporadas em São Paulo, pouco antes de Marilena interpretar seu primeiro papel, numa dança oriental na ópera "Thaís", de Massenet.
Nos anos 60 Marilena viveria uma de suas melhores experiências. Com bolsa de estudos, ela conseguiu estudar em Moscou, na Escola do Balé Bolshoi.
No dia 22 de abril de 1964, estreou no Teatro Bolshoi para uma platéia que incluía líderes políticos como Kruschov e Ben Bella, num papel já interpretado por Maya Plisetskaya, um dos monstros sagrados da dança russa.
"Foi no balé 'A Fonte', de Baychisa", recorda. De volta ao Brasil, ela romperia com os dogmas da dança clássica para criar seu próprio estilo.
Renée Gumiel, que havia se mudado da França para o Brasil, é citada por Marilena como a artista que, nessa fase, mudava mentalidades com suas "danças modernas".
Junto com Márika Gidali, Marilena participou da montagem realizada por Renée para "Entre Quatro Paredes", de Sartre.
O livro de Marilena Ansaldi também oferece detalhes sobre uma das mais bem-sucedidas experiências culturais de São Paulo: o Teatro da Dança, que funcionou a partir de 1975 na Sala Gil Vicente do Teatro Ruth Escobar.
Esse palco, além de revelar inúmeros talentos que depois se "refugiaram" na Europa, como Sonia Motta, serviu para Marilena inaugurar a fase mais fértil de sua carreira.
Depois de "Isso ou Aquilo" (cujo processo de criação é descrito no livro), Marilena apresentaria vários espetáculos solo, que lançaram uma nova abordagem cênica para a simbiose entre dança e teatro. (AFP)

Livro: Atos
Autora: Marilena Ansaldi
Quanto: preço ainda não definido
Lançamento: dia 26 de abril, 19h, no Clube Atlético Paulistano, r. Honduras, 1.400 (Jardim América - zona oeste)

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