São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 1994
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Otan adia bombardeio contra cerco a Gorazde

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Pânico e incerteza cercam Gorazde, encrave muçulmano no leste da Bósnia. Os tanques sérvios-bósnios que a invadiram no sábado recuaram, mas já estão desrespeitando o cessar-fogo ontem mesmo decidido.
Os ataques aéreos da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) foram novamente adiados. A razão oficial é o mau tempo, que teria sido também responsável pelo vôo em baixa altitude do avião britânico abatido anteontem.
A Otan disse que não recebeu um pedido formal da ONU para lançar ataques contra tropas sérvias, como no domingo anterior. Mas confirmou que o avião atingido se encontrava em missão de apoio para um ataque.
O presidente dos EUA, Bill Clinton, excluiu um ataque aéreo imediato para conter os sérvios. Atribuiu ao comandante das forças da ONU, Michael Rose, a avaliação de que "não surtiriam o efeito militar desejado".
Clinton também se opõe a um abrandamento das sanções econômicas contra a Sérvia, conforme proposto por aliados europeus. A idéia era fazer com que a Sérvia pressionasse seus aliados étnicos na vizinha ex-república iugoslava.
Os sérvios já controlam mais de 70% do território bósnio. A conquista de Gorazde lhes permitiria unir seus domínios no leste e no sudoeste do país.
A guerra civil, na qual participam ainda os croatas-bósnios, já dura dois anos. Teve início com a recusa da minoria sérvia em acatar plebiscito que decidiu pela independência do país.
Cessar-fogo
O Conselho de Segurança da ONU ordenou ontem à noite que as forças sérvias cessem os ataques contra Gorazde.
Yasushi Akashi, autoridade máxima da ONU na região em conflito, disse que o encrave a 56 km de Sarajevo (capital da Bósnia) se encontra ainda sob "séria ameaça". Não há indícios de que a situação possa melhorar, no curto prazo.
"Forças sérvias cercam a cidade a curta distância. O tiroteio e o bombardeio diminuíram, mas continuam de modo intermitente. Os tanques recuaram, mas reaparecem", disse Akashi.
O próprio Akashi tinha mediado um cessar-fogo numa reunião em Pale, a capital dos sérvios-bósnios perto de Sarajevo. Um dos itens previa o envio de 350 "capacetes azuis" da ONU a Gorazde.
Os sérvios aceitaram recuar suas tropas e artilharia a 3 km do centro da cidade. Os bombardeios porém continuaram, espalhando pânico.
Segundo Silvana Foa, que representa em Gorazde o Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), cerca de 30 mil pessoas aglomeravam-se na região central em busca de abrigo.
Os que chegavam ao Acnur diziam que os tanques estavam a 500 metros. A informação não pôde ser confirmada. Franco-atiradores impediam a saída do prédio. "Seria suicídio", disse Foa.

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