São Paulo, terça-feira, 19 de abril de 1994 |
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Biógrafo Mendonza fala de García Márquez
DO CORRIERE DELLA SERA Plinio Apuleio Mendonza é um dos primeiros leitores de Gabriel García Márquez. Folheou também as provas do último romance, "Do Amor e Outros Demônios". É o biógrafo mais conhecido de Gabo (apelido do escritor), com seu "Cheiro de Goiaba".* Corriere della Sera - Falemos do último romance de Márquez. Plinio Apuleio Mendonza - Um livro excepcional. Truman Capote explicava que existe uma grande diferença entre escrever bem e escrever mal. Mas uma diferença ainda mais importante, mais sutil, existe entre escrever bem e escrever uma obra-de-arte. Esta última contém um elemento misterioso que dá força e profundidade à atmosfera. Em "Do Amor e Outros Demônios", nos afundamos sem salvação na Idade Média da nossa época colonial. Pergunta - Mudou alguma coisa em relação ao passado? Resposta - Sempre existe algo novo nos romances de Gabo, mas desta vez, mais do que em qualquer outro, ele representa uma ruptura com os livros precedentes. Sabemos que ele é o inventor do realismo fantástico, um tipo de narrativa que tem muitos imitadores. Mas o mágico, quando não é acreditável, se converte em um jogo literário. Gabo se tornou o senhor da hipérbole. É sua propriedade privada. Quando outros o imitam, servindo-se da hipérbole, terminam por transformá-la em retórica. Ele mesmo, digamos a verdade, algumas vezes arrisca fazer da hipérbole uma espécie de maneirismo. A história de Sierva Maria, filha de um marquêz, mas que aprende a língua dos escravos africanos e por isso vem considerada possuída pelo demônio pelo Santo Ofício transcende o realismo fantástico. O escritor se transforma em cronista de um fato alucinante, não o fabricante de uma ilusão. Texto Anterior: Ralph Ellison deixa romance inacabado Próximo Texto: Bomba! Lançada a Bíblia dos bichados! Índice |
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