São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 1994
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Dívida do governo é recorde desde Sarney

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os juros altos praticados pelo Banco Central elevaram a dívida interna em títulos (mobiliária) do governo para US$ 50,57 bilhões em março. É o maior valor desde o final do governo Sarney.
O crescimento da dívida tem impactos negativos sobre as contas públicas e reduz a possibilidade de chegar ao final do ano sem déficit, conforme promete o plano econômico do governo.
Segundo a Folha apurou, o governo terá de prever mais recursos para o pagamento de juros da dívida interna no Orçamento para 1994, no momento em reformulação, devido à alta dos juros iniciada no final do ano passado.
No final de 1993, a dívida registrava US$ 43,7 bilhões, e passou a crescer em termos reais desde janeiro. O principal motivo é a alta dos juros, que chegaram a 34% ao ano acima da inflação.
Segundo o BC, a base monetária (volume de dinheiro em circulação e nas reservas dos bancos junto ao BC) teve expansão de 34% em março, na comparação do final de março com o final de fevereiro.
Pelo critério dos volumes médios diários, a base cresceu ainda menos que a inflação: 22%. A diferença entre os dois índices acontece porque o último dia útil de março foi feriado, provocando saques de dinheiro nos bancos.
O valor atual da dívida mobiliária é relativamente pequeno –representa 8,8% do PIB (Produto Interno Bruto, soma dos bens e serviços produzidos no país), enquanto em países como a Itália esse percentual chega a 70%.
O problema é que o débito tem prazos curtos e juros elevados. A maior parte dos títulos que compõem a dívida são trocados a cada 28 dias, dificultando a administração do fluxo de pagamentos.
A dívida mobiliária chegou a representar 16% do PIB no final do governo Sarney, devido à inflação e aos juros altos. Ao assumir, em 1990, o governo Collor bloqueou os pagamentos da dívida.
Segundo o BC, a dívida também cresceu devido à entrada de dólares no país. É que o BC emite títulos para retirar o dinheiro em circulação na economia, inflado pela entrada dos dólares. Os recursos externos são atraídos pelos juros praticados no país.
Em março, US$ 1,7 bilhão ingressou no país, a menor quantia desde setembro passado. Nas operações financeiras (excluindo exportações e importações) houve fuga de recursos, de US$ 640 milhões.
Reservas crescem
As reservas internacionais –volume de moeda forte acumulada pelo Banco Central– voltaram a registrar recorde no final do mês de fevereiro. Elas somaram US$ 36,542 bilhões.
Para disponibilidade imediata, o BC conta com US$ 30,525 bilhões. Os valores do final de janeiro, recorde anterior, eram de US$ 35,39 bilhões (total) e US$ 29,138 bilhões (a curto prazo).
As reservas terão papel decisivo no plano econômico do governo. Elas servirão para controlar o valor do dólar, através de intervenções do BC no mercado, e como garantia da futura moeda, o real.
A avaliação da equipe econômica é que as reservas continuarão em crescimento esse ano. Isso porque os juros altos continuarão atraindo recursos externos, que ingressam no país em busca da rentabilidade das aplicações financeiras.

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