São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 1994
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Redução de imposto tem efeito reduzido

DA REPORTAGEM LOCAL

A redução de alíquotas de importação de 17 produtos anunciada anteontem não tem efeito prático significativo sobre os preços. A opinião é do economista José Maurício Soares, supervisor da pesquisa de preços do Dieese.
Para ele, os reflexos são limitados. O único dos 17 produtos da lista de largo consumo é o açúcar. Mesmo assim, a importação chega a ser um contra-senso.
Além de o Brasil ser um dos maiores produtores mundiais, o açúcar não é um produto que venha subindo além da média, diz.
No caso do café solúvel, a situação é semelhante. Vivendo no maior produtor de café do mundo, o consumidor brasileiro quase não consome o solúvel, argumenta.
A lista beneficia a população de renda mais alta, afirma o economista. Mesmo assim, os efeitos sobre os preços só vão se confirmar caso haja possibilidade de importar rapidamente esses produtos.
A decisão de isentar latas de alumínio para cerveja e refrigerante foi bem-recebida pelo único fabricante nacional. A Latasa vinha solicitando ao governo a adoção da medida. A empresa está com sua capacidade de produção (1,7 bilhão de latas/ano) saturada.
Segundo o gerente de reciclagem da empresa, José Roberto Giosa, o produto importado tende a chegar ao mercado brasileiro pelo mesmo valor da lata nacional –que ele não revela o valor.
O problema com as latas deve acabar no ano que vem, diz. A Latasa está investindo US$ 51 milhões na construção de uma fábrica no Rio.
Outros US$ 22 milhões estão sendo aplicados na ampliação da fábrica de Pouso Alegre (MG). Ele prevê produção de 3,9 bilhões de latas a partir de março de 1995.
Giosa afirma que em nenhum momento a empresa praticou "preços abusivos, como chegou a ser noticiado". Segundo ele, o preço da lata de alumínio caiu 22% em três anos de operação da Latasa.
A abertura para a importação sem quotas da cerveja boliviana também não afeta a indústria, acredita José Eduardo Jardim, diretor da Kaiser.
Ele não quis fazer comparação de preços ou projeção de como ficará o mercado.
Já a importadora Fortuna acha que a bebida vai ficar mais barata devido à concorrência. A empresa importa a marca boliviana Pace¤a, a 0,90 URV por lata. O mercado brasileiro de cerveja é de 6 bilhões de litros por ano.
Solon Teixeira de Rezende Jr., diretor de marketing da Associação Brasileira da Indústria do Queijo (Abiq), também não crê em queda de preços.
Acha, porém, que o fato de a medida estar sendo adotada nesse início de entressafra pode impedir aumentos reais.
O queijo foi apontado em pesquisa Procon-Dieese como produto de maior aumento este ano: 100% em URV até a metade deste mês.
Para Solon, o principal prejudicado, é o produtor de leite. A medida dá competitividade ao queijo europeu, de produção subsidiada.
Mesmo assim, a disponibilidade de queijo no exterior é pequena. O principal mercado para a Europa hoje é o Leste Europeu, afirma. O máximo que o país poderá importar são 3.000 toneladas, calcula.
Segundo Solon, o produto importado deve custar o mesmo que o nacional: 3,6 URV por quilo para os tipos prato e mozarela.
Segundo a Abiq, mais de 500 empresas registradas fabricam queijo no Brasil. Produzem cerca de 350 mil toneladas por ano.

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