São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 1994
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Quanto pior, pior

A julgar pelas expectativas empresariais captadas por sondagem da Price Waterhouse, a inflação vai demorar muito para cair a níveis toleráveis. Segundo os empresários, a inflação em abril ficará em 40,8% e, em URVs, pode chegar a 11,1%.
Esse resultado, entretanto, deve ser interpretado com várias e sérias ressalvas. A começar pelo fato de que tais previsões foram coletadas em dezembro e janeiro, quando foi realizada a 17ª pesquisa "Indicadores Conjunturais". Em cruzeiros reais, por exemplo, a inflação já supera os 40,8% previstos na pesquisa.
A URV é calculada a partir de uma média de índices de inflação. Haver inflação em URVs seria, assim, identificar produtos cujos preços fossem reajustados à frente da média. Viu-se ao longo de março uma forte alta de alimentos, superior à variação da URV.
De outro lado, é por definição impossível que a inflação média, ou seja, descontados os altos e baixos nos vários setores, seja diferente da inflação detectada pela URV. Repita-se: por definição, pois se a URV é uma média de índices de inflação, a inflação média será sempre a própria URV. É preciso cautela com a expressão "inflação em URVs".
Problema diferente e objetivo surge quando a distância entre os índices que compõem a URV é muito grande. Nas últimas semanas esse distanciamento entre os índices tem sido a regra. Os números do IBGE aproximam-se dos 41% ao mês, os da Fipe repicam rumo aos 45%, o IGP da FGV-RJ deve situar-se entre esses extremos.
Qual a inflação "real"? A oficial, sacramentada pela URV, ou todas as outras possíveis, medidas por vários institutos com metodologias completamente distintas?
O perigo do atual momento é afinal cumprir-se a expectativa dos empresários que, prevendo o pior, apostaram na subestimação da URV e partiram, em muitos casos, para a remarcação preventiva –e abusiva– dos preços. É evidente que, pior que esperar o pior, é agir segundo essa expectativa, tornando o futuro, por definição, pior mesmo.

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