São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 1994
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Divisões no PT

O balanço das escolhas de delegados para o Encontro Nacional do PT, publicado ontem por esta Folha, vem confirmar a predominância dos grupos mais extremistas no partido. Embora o processo de indicação de delegados não esteja ainda concluído (foram eleitos 87% do total), a expectativa é que as correntes ortodoxas continuem por volta dos 54% que detêm até agora.
Longe de limitar-se a uma questão interna, essa distribuição de forças no PT tem interesse geral à medida que é o Encontro Nacional (com início previsto pra o dia 29) que vai definir o programa de governo da legenda. E o PT, como se sabe, lidera todas as pesquisas de intenção de voto para o Planalto.
A política interna do partido é porém mais complexa e –felizmente– não permite concluir que a plataforma de Lula será fatalmente ditada pelos extremistas.
A esquerda do PT compõe-se de grupos diversos, sendo que o maior deles, a "Opção de Esquerda" (que tem 33% dos delegados até agora), não descarta um entendimento com a ala mais moderada ligada a Lula.
O candidato virtual do partido, por sua vez, deve empenhar-se nessas negociações, já que a ele não parece interessar uma radicalização extrema da campanha. As pesquisas apontam para um embate com Fernando Henrique no segundo turno, candidato que –apesar de suas alianças– acena com certa penetração no eleitorado da centro-esquerda. Para conquistar esses votos, o petista terá que filtrar o xiismo e atenuar seu discurso.
De outra parte, porém, um acordo com a "Opção pela Esquerda" pode significar, para Lula e os setores mais amadurecidos do PT, aceitar teses mais ortodoxas do que gostariam. Há, por fim, o espectro de uma aliança das facções à esquerda, que tenderia a gerar um programa obsoleto e indesejável.
Resta esperar agora que as negociações da semana que vem resultem numa composição ponderada e realista. Mais do que parecer, eleitoralmente, a pior opção para o PT, o radicalismo exacerbado é também a mais inquietante para o país.

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